Indonésios
correm, mas ainda não têm certeza de quando começam a usar a Coronavac
A
Indonésia pode ser um dos primeiros países do mundo a vacinar sua população
contra a Covid-19. De início, vai usar a mesma vacina comprada pelo governo
paulista, a
CoronaVac, da empresa chinesa Sinovac. Mas pretende começar uma vacinação
emergencial e por ora apenas prevista para fins de novembro. Pode ser bem
depois, talvez em janeiro ou depois. Não é bem como dizem por aqui.
Um
ex-colega de faculdade deste jornalista trabalha no governo da Indonésia,
embora não no ministério da Saúde. Conta que eles ficaram tão interessados no
que se passa no Brasil como nós agora começamos a nos informar sobre o que se
faz por lá com a “vacina paulista”.
A
associação dos médicos e parlamentares indonésios dizem que o governo não deve
se apressar e deve esperar a publicação dos testes. O próprio governo diz que
precisa da aprovação da vigilância sanitária, permissão por ora apenas para
vacinação emergencial, e das autoridades religiosas.
Meu
ex-colega conta que a resistência às vacinas aumentou faz uns anos, depois de
um rolo com a vacinação contra o sarampo. Certas autoridades islâmicas disseram
então que a vacina talvez não fosse “halal”,
permitida pela religião (talvez fosse contaminada por algum produto proibido
pela lei religiosa). O rolo foi tamanho que as autorizações religiosas foram
distribuídas por três instituições diferentes –cerca de 87% dos indonésios são
muçulmanos.
Outra
preocupação meio “pop” é se a vacina seria adequada às etnias indonésias
(centenas) e apropriada para evitar o vírus que circula no país.
A
vacinação vai começar em cerca de 9 milhões dos 270 milhões de indonésios,
prioritariamente em trabalhadores de saúde ou em situação de risco, em pessoas
de 18 a 59 anos, sem comorbidades. Os pesquisadores responsáveis pelos testes
clínicos diziam no início deste mês, em entrevistas à imprensa local, que os
primeiros exames de eficácia ficariam prontos apenas em dezembro. E então, como
fica?
É
esse o debate, diz meu ex-colega. Todo mundo quer a vacina, mas não quer ser
cobaia, embora exista confiança na universidade, na estatal que vai fabricá-la
e na vigilância sanitária, diz.
Brasil
e Indonésia estão quase no mesmo estágio de teste da Coronavac. Os indonésios
começaram a avaliação em agosto, três semanas depois do programa brasileiro. Há
testes em estágios ainda mais preliminares na Turquia e um para começar no
Chile. Os indonésios vão comprar a Coronavac e outras duas vacinas chinesas,
além daquela desenvolvida pela
Astra Zeneca e pela Universidade
Oxford. Desenvolvem uma vacina nacional, que pretendem testar em massa a
partir de meados do ano que vem.
A
Indonésia conta muito menos mortos de Covid que o Brasil, 12.857, ante mais de
155 mil –em termos relativos, o número de vítimas por aqui é 15 vezes maior. O
país é uma das 20 maiores economias do mundo. A renda (PIB) per capita do
Brasil é 26% superior, o Índice de Desenvolvimento Humano é maior e a
expectativa de vida também, embora não muito mais.
O
país é uma democracia desde o fim da ditadura de Suharto (1966-1998). O
presidente Joko “Jokowi” Widodo foi acusado de causar confusão na política
anticoronavírus, de ter subestimado a doença etc., entrando em conflito com
governos locais que impuseram medidas de distanciamento social. Mas Jokowi
jogou a toalha ainda em abril. O governo central agora diz que, mesmo com a
vacina, não será possível relaxar no distanciamento e no uso de máscaras.
Parece uma situação bem melhor do que a nossa. Né.
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