sexta-feira, 23 de outubro de 2020

Ricardo Noblat - General Pazuello, pede pra sair!

- Blog do Noblat | Veja

Farda manchada

Como acreditar no que o general Eduardo Pazuello, ministro da Saúde, disser ou fizer doravante? Se tivesse o mínimo de preocupação com a sua e a imagem dos colegas de caserna, pediria demissão depois de desautorizado pelo presidente Jair Bolsonaro no caso da compra da vacina chinesa contra a Covid-19.

Mas, não. Infectado pelo vírus, recolhido ao hotel do Exército em Brasília, onde mora, Pazuello foi acordado, ontem à tarde, para receber a visita de Bolsonaro. E foi constrangido a gravar uma parte de sua conversa com ele onde afirmou: “É simples assim, um manda e outro obedece. Mas a gente tem carinho”.

Vexame, vexame, vexame! Onde já se viu um general render-se a um capitão? Ou melhor: a um ex-capitão? Tudo bem, o ex-capitão é hoje o presidente da República, e o general ainda na ativa, seu vassalo. De toda forma, pegou muito mal para ele entre seus colegas de farda. Primeiro foi desautorizado. Depois, humilhou-se.

No último fim de semana, Pazuello havia combinado com Bolsonaro no Palácio da Alvorada o que diria quando se reunisse com os governadores para discutir a compra de vacinas. E cumpriu o combinado ao anunciar:

“A vacina do Butantan será a vacina brasileira. Já fizemos carta em resposta ao ofício do Butantan, e essa carta é o compromisso da aquisição das vacinas que serão fabricadas até o início de janeiro, em torno de 46 milhões de doses, e essas vacinas servirão para nós iniciarmos a vacinação ainda em janeiro. Essa é a nossa grande novidade e isso reequilibra o processo”.

Aí, o governador João Doria (PSDB), de São Paulo, o padrinho da vacina chinesa no Brasil, celebrou o anúncio nas redes sociais e por toda parte. Aí, no dia seguinte, os bolsonaristas de raiz foram para cima de Bolsonaro nas redes. Aí, furioso e a conselho dos três filhos zeros, Bolsonaro deixou Pazuello pendurado na brocha.

Militares próximos ao presidente, e militares da reserva ficaram indignados com o episódio. Inicialmente, com o que Bolsonaro fez. Ontem, com o que fez também Pazuello. Até porque a vacina chinesa, ainda em fase de teste como as demais, se aprovada acabará sendo comprada. Doria continua rindo à toa.

Essa parada foi ganha por ele, que mais e mais se oferece como o candidato capaz de derrotar Bolsonaro em 2022. Cerca de 70% dos brasileiros se dizem dispostos a se vacinar, segundo pesquisa Datafolha. E parte deles começa a ver Bolsonaro como inimigo de tudo o que possa salvar vidas.

Em tempo: Pazuello revelou que está sendo tratado com cloroquina. Bolsonaro ficou muito satisfeito com o que ouviu.

 Delegadas em alta, candidatos a prefeito favoritos, preocupados

Russomano derrete e rejeição a Crivella aumenta

O sonho de qualquer candidato é poder escolher o seu adversário. O adversário dos sonhos do prefeito Bruno Covas (PSDB), de São Paulo, por exemplo, é o deputado Celso Russomano (Republicanos), apoiado pelo presidente Jair Bolsonaro.

Nas contas de Covas, se os dois disputarem o segundo turno, ele se reelegerá com o apoio dos eleitores de Guilherme Boulos (PSOL) e de Jilmar Tatto (PT), e de uma parte dos eleitores de Márcio França (PSB). O candidato mais difícil para Covas seria França.

O adversário dos sonhos de Eduardo Paes (DEM), candidato a prefeito do Rio, é Crivella (Republicanos). O mais perigoso, a Delegada Martha Rocha (PDT). No Recife, tanto faz para João Campos (PSB) enfrentar Marília (PT) quanto Mendonça (DEM).

Marília é prima de Campos, e o PT não está inteiramente fechado com ela. Uma fatia grande apoia Campos desde já. Mendonça, que estimula a campanha “Mendonça é Bolsonaro, Bolsonaro é Mendonça”, costuma perder as eleições majoritárias que disputa.

Quem poderia dar trabalho a Campos seria a Delegada Patrícia (Podemos), apoiada pelo Cidadania, antigo Partido Comunista Brasileiro. Pois foi justamente ela que cresceu e atropelou Marília e Mendonça na mais recente pesquisa Datafolha.

As delegadas estão em alta. Enquanto Crivella despenca e sua rejeição sobe, Martha Rocha empata com ele e deve superá-lo na pesquisa da próxima semana. Em simulação de segundo turno, Patrícia e Campos já aparecem empatados.

Russomano está ladeira abaixo, para aflição de Covas e felicidade de França. Parece escrito que ele cumprirá sua sina de ser líder na largada de campanha e em seguida começar a derreter. É como cavalo paraguaio: dispara na frente e depois perde o páreo.

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