Há
dez dias, o ministro Ernesto Araújo disse não se importar com a perda de
relevância do Brasil no cenário internacional. “É bom ser pária”, desdenhou, em
discurso para jovens diplomatas. O isolamento do país já é uma realidade desde
a posse de Jair Bolsonaro. Mas pode se agravar a partir de terça-feira, quando
os Estados Unidos escolherão seu próximo presidente.
Uma
possível vitória de Joe Biden será péssima notícia para o capitão e seu
chanceler olavista. Os dois ancoraram a política externa numa relação de
vassalagem com Donald Trump. Agora arriscam ficar à deriva se o republicano for
derrotado, como indicam as pesquisas.
Quando
ainda sonhava em ser embaixador nos EUA, o deputado Eduardo Bolsonaro posou com
um boné da campanha de Trump. O pai chegou perto disso. Às vésperas da eleição,
ele reafirmou a torcida pelo magnata. “Não preciso esconder isso, é do
coração”, declarou-se.
Para
bajular o aliado, o bolsonarismo pôs a diplomacia brasileira de joelhos. O
Itamaraty abriu mão de protagonismo, deu as costas à América Latina e trocou a
defesa do interesse nacional pela subordinação ao interesse americano. Em
setembro, permitiu que o secretário Mike Pompeo usasse Roraima como palanque
para agredir um país vizinho.
Na
pandemia, Bolsonaro imitou a pregação de Trump contra a Organização Mundial da
Saúde, o uso de máscaras e as medidas de distanciamento. O negacionismo da
dupla abriu caminho para o avanço do vírus. Não por acaso, os EUA e o Brasil
lideram o ranking de mortes pela Covid.
O
capitão surfou a onda nacional-populista que produziu o Brexit, elegeu Trump e
impulsionou partidos de extrema direita na Europa. Uma derrocada do republicano
deixará essa tropa sem comandante. Será um alento para quem aposta no diálogo e
na cooperação internacional, hoje sufocados pelo discurso do ódio e pela
intolerância.
Biden
está longe de ser um símbolo do progressismo. Mesmo assim, comprometeu-se com a
defesa da democracia, do meio ambiente e dos direitos humanos. Isso significa
que sua possível vitória provocará mudanças sensíveis nas relações entre
Washington e Brasília.
No
primeiro debate presidencial, Biden já avisou que pressionará Bolsonaro a frear
o desmatamento da Amazônia. Ele acenou com uma cenoura e um porrete: a criação
de um fundo de US$ 20 bilhões para estimular a preservação da floresta ou a
imposição de sanções econômicas ao Brasil.
No
dia seguinte, o capitão acusou o democrata de tentar suborná-lo. Além de
exagerar no tom, conseguiu errar o primeiro nome do adversário de Trump. O
bate-boca indicou o que vem por aí se Joseph — e não John — assumir a Casa
Branca.
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Quando a política produzia fatos estranhos e inimagináveis, o vice-presidente José Alencar costumava usar uma expressão da roça: “Até a vaca está estranhando o bezerro”. Na quinta-feira, o ministro Paulo Guedes atacou a Federação Brasileira de Bancos. Logo ele...
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