O
que o SUS, a Alemanha e a recaída europeia dizem sobre a doença no Brasil
A
Alemanha acha que é difícil vacinar seus 83 milhões de habitantes até o final
de 2021. Sim, vacinar contra a Covid. Sim, a eficiente, organizada e
disciplinada Alemanha. Aplicar 100 mil doses por dia seria “um desafio”, disse
na semana passada Thomas Mertens, o chefe do Comitê Permanente de Vacinação do
Instituto Robert Koch, agência alemã de controle e prevenção de doenças.
No
Brasil, o SUS chega a atender 1 milhão de pessoas por dia nas campanhas de
vacinação contra a gripe. Em alguns anos, esteve preparado para vacinar quase
1,5 milhão de pessoas por dia, em cerca de 65 mil postos.
Isso
dá o que pensar nas burrices que o governo diz
sobre vacina e sobre as nossas possibilidades de conter a doença,
muitas desperdiçadas de modo criminoso até agora.
Sim,
de um modo ou de outro, estamos fartos de ouvir, falar ou saber de coronavírus.
Mas ainda podemos fazer um esforço para atenuar a situação e reagir contra a
ignorância homicida. Se por mais não fosse, a Europa nos dá
outro alerta de perigo, como em março.
Ainda
não há vacina. Alguns países, Alemanha, Estados Unidos, Indonésia ou Brasil,
se preparam para distribuí-las a partir de dezembro, mas apenas isso:
preparam-se para o melhor. Cientistas discutem ainda a possibilidade de, a
princípio, usar as vacinas apenas de modo comedido, limitado, experimental
mesmo. Há quem diga que a vacinação precoce pode até atrapalhar a continuidade
dos testes de eficácia e segurança, que ainda prosseguirão por meses ou anos.
Anthony
Fauci disse nesta semana que talvez em dezembro apareçam dados suficientes para
que uma ou duas das vacinas que estão sendo testadas nos Estados Unidos possam
ser submetidas à aprovação das autoridades sanitárias. A vacinação ficaria
então para o início do ano que vem, se tudo der certo. Fauci é chefe do
Instituto Nacional de Alergia e Doenças Infecciosas e a autoridade oficial
americana em matéria de Covid.
Isto
posto, é um crime contra a humanidade enxovalhar
a vacinação em geral, como faz Jair Bolsonaro, ou uma possível
vacina contra a Covid, seja anglo-sueca, chinesa, americana, alemã ou russa.
Devemos nos preparar para oferecer vacinas e não esquecer que a epidemia está
longe de terminar.
Os
mortos por Covid no Brasil ainda são o triplo do número de assassinados no
país, na média por dia. A Covid mata 15 vezes mais que o HIV, ainda pela média
diária. Quatro vezes mais que os acidentes de trânsito.
Na
União Europeia, o número diário de mortes baixara muito até julho, quando
chegou a 0,2 por milhão de habitantes. Agora está em 2,9 por milhão, por dia, e
crescendo rápido. No Brasil, estamos com 2 mortes por milhão, por dia. Mas há
indícios que a taxa geral de infecção por aqui não seja lá muito diferente da
espanhola, por exemplo –haveria muita gente que pode ser infectada ainda.
Assim, em tese, é possível um repique da doença. Não sabemos, mas o risco é
sério.
Os
maiores países da Europa voltaram a fechar as portas de muito negócio e
atividade. Mesmo antes disso, em outubro, a economia já balançava de novo, se é
que a recaída na recessão já não estava ocorrendo. Não é o “lockdown” que
derruba os negócios, mas a doença. Mesmo quase sem restrições oficiais, o
movimento nos trens e metrôs de São Paulo ainda é a metade do que se via no ano
passado.
Há esperanças: uma vacina, o nosso SUS e que a maioria de nós não seja infectada pela desumanidade presidencial. Enquanto esperamos, nós que aqui estamos temos de tomar cuidado ainda. A Europa está nos avisando.
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