No
meio do caminho tem uma pedra – a economia
E
o pior para o presidente Jair Bolsonaro ainda está por chegar. Como, sem
partido, ele poderia sair-se bem das eleições que terminaram ontem? Nunca antes
na história dos últimos 50 anos um presidente da República, mal começou a
governar, abandonou o partido pelo qual se elegeu e ficou sem nenhum.
Bolsonaro
perdeu feio no primeiro turno, e mesmo tendo apostado em poucos nomes no
segundo turno, perdeu feio do mesmo modo. Conseguiu ser amplamente derrotado no
seu berço político, o Rio de Janeiro. Só tem a comemorar a eleição do prefeito
de Vitória, que é mais conservador do que propriamente bolsonarista.
Os discursos de vitória de Bruno Covas (PSDB), prefeito reeleito de São Paulo, e de Eduardo Paes (DEM) que volta a governar a cidade do Rio, apontaram na direção de uma frente de partidos do centro para tentar derrotar Bolsonaro daqui a dois anos. O PT conseguiu a proeza de eleger menos prefeitos e vereadores do que em 2016.
A
próxima batalha a ser perdida por Bolsonaro é da eleição do novo presidente da
Câmara dos Deputados. Ele já trabalha a favor do deputado Arthur Lira (PP-AL),
do Centrão, que diz contar ali com 200 dos 513 votos possíveis. DEM, PSDB, MDB
e os demais partidos de esquerda deverão juntar-se em apoio a outro nome.
No
fim de dezembro, expira o pagamento do auxílio emergencial para os brasileiros
mais pobres atingidos pelos efeitos do Covid-19. Falta dinheiro ao governo para
prorrogá-lo. O auxílio impediu que a popularidade de Bolsonaro medida pelos
institutos de pesquisa sofresse uma queda abrupta. Sem ele, como será?
Em
palestra virtual na semana passada para um grupo de empresários reunidos pela
Associação Comercial de São Paulo, Affonso Celso Pastore, ex-presidente do
Banco Central, traçou um quadro assustador da economia brasileira a partir de
2021. Segundo ele, o desemprego poderá bater na casa dos 21%.
Pastore
afirmou que a crise que só tende a se agravar alimenta-se da combinação
perversa de vários fatores – e citou dois deles. O primeiro: a fragilidade
técnica da equipe liderada pelo ministro Paulo Guedes, da Economia. O segundo:
o comportamento político errático de Bolsonaro que gera insegurança.
As eleições de 2022 girarão em torno da economia, da situação em que ela se encontre, do que Bolsonaro prometeu entregar e não entregou, e, naturalmente, do seu desempenho no combate à pandemia. Se for candidato à reeleição, é previsível que dispute o segundo turno. Mas tudo conspira para que perca.
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