Ao
despejar Marcelo Crivella, o eleitor carioca impôs um freio ao plano de poder
da Igreja Universal. Nos últimos quatro anos, o Rio virou laboratório de um
projeto que mistura fé e política. Ontem essa fórmula foi rechaçada nas urnas.
Crivella
se elegeu em 2016 com o discurso de que governaria para todos. Foi uma das
muitas promessas que ele não cumpriu. O dublê de bispo e prefeito favoreceu
abertamente seu grupo religioso. Transformou a administração municipal em
guichê da Universal.
O
caso do “Fale com a Márcia” resumiu essa apropriação indevida. Crivella escalou
uma assessora para ajudar pastores e fiéis a furarem fila nos hospitais. O
escândalo deu origem a CPI e pedido de impeachment. Como estamos no Rio, também
virou marchinha de carnaval.
Nem a maior festa da cidade escapou da guerra santa do bispo. Ele suspendeu o apoio às escolas de samba e passou quatro anos sem pisar na Sapucaí durante os desfiles. Num ato de pura birra, também se recusou a entregar as chaves da cidade ao Rei Momo.
No
reinado de Crivella, a prefeitura promoveu o obscurantismo e sufocou a
diversidade. No ano passado, o bispo mandou fiscais à Bienal do Livro para
apreender um gibi. Tentou ressuscitar a censura por causa do desenho de um
beijo gay.
A
agenda reacionária tinha um objetivo claro: esconder o abandono da prefeitura.
Enquanto Crivella pregava, a máquina pública deixou de funcionar. Aos poucos, a
população percebeu o truque. Ele se tornou o prefeito mais impopular em décadas
— uma façanha de proporções bíblicas, dado o histórico da cidade.
Em
busca da reeleição, o bispo praticou seu ato final de oportunismo. Ex-ministro
de Dilma, ele tentou pegar carona na popularidade de Bolsonaro. Apesar do apoio
do capitão, recebeu a menor votação entre todos os candidatos que já disputaram
um segundo turno no Rio.
Ontem Eduardo Paes anunciou o fim do governo “mais preconceituoso” que já passou por aqui. A vitória esmagadora do ex-prefeito teve um quê de exorcismo. No futuro, 2020 será lembrado como o ano em que os cariocas se libertaram de Crivella.
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