PT
da Câmara vai se posicionar contra a reeleição na Mesa
A
esquerda saiu derrotada das urnas - com ressalva ao desempenho de Guilherme
Boulos (PSOL) em São Paulo -, numa disputa em que MDB, PP, PSD, PSDB e DEM
elegeram mais de 3 mil prefeitos.
Apesar
do revés eleitoral, as bancadas de esquerda retornam ao Congresso nesta semana
com os passes valorizados para outra eleição: a sucessão nas Mesas Diretoras da
Câmara e do Senado, daqui a 63 dias.
Entusiasta
de uma ampla frente “de centro” em 2022 - na qual incluiu Ciro Gomes e o PDT -
o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), terá de fazer a curva à esquerda
para conquistar os votos necessários para sua eventual reeleição, ou para fazer
um sucessor de seu grupo.
Na
Câmara, os 138 deputados dos partidos de esquerda cumprirão o papel de fiel da
balança no desfecho da acirrada disputa entre Rodrigo Maia e Arthur Lira
(PP-AL). Sabe-se que foram os votos da esquerda que viabilizaram a expressiva
vitória de Maia no primeiro turno em 2018, com 334 votos.
Ontem durante uma reunião virtual, a bancada do PT - a maior da esquerda, com 57 deputados - estabeleceu pré-requisitos ao candidato que reivindicar os votos petistas. Dois deles inviabilizam, de saída, o endosso do PT ao próprio Maia, e ao relator da reforma tributária, Aguinaldo Ribeiro (PP-PB).
Falta
a chancela do diretório nacional, mas a bancada do PT na Câmara vai se
posicionar contra a reeleição dos atuais presidentes das Casas.
Os
deputados não têm ingerência sobre os senadores, mas, ao menos em seu foro
decisório, não avalizarão a eventual recondução de Rodrigo Maia, na hipótese de
o Supremo Tribunal Federal (STF) declarar a constitucionalidade da postulação.
Os
deputados do PT também só comprometerão os votos da bancada com um candidato
apoiado oficialmente pelo seu partido. Essa posição é um complicador para
Aguinaldo, na hipótese (remota) de ele lançar a candidatura avulsa pelo grupo
de Maia. O presidente do PP, senador Ciro Nogueira (PI), já declarou que o
partido apoia Lira.
As
diretrizes dos votos do PT na Câmara ainda serão submetidas ao diretório
nacional, que se reúne na próxima semana para a primeira avaliação oficial do
resultado das eleições.
As
bancadas da Câmara e do Senado divergem, e o diretório terá de arbitrar o
impasse. O líder no Senado, Rogério Carvalho (SE), já declarou publicamente
apoio da bancada à recondução do presidente Davi Alcolumbre (DEM-AP).
Maia
já tem uma boa parcela dos votos da esquerda, mas terá de se desdobrar pelos
votos do PT. O partido tem restrições a vários de seus possíveis candidatos.
Rejeita o líder e presidente do MDB, Baleia Rossi (SP), pela proximidade de
Michel Temer.
A
melhor interface dos petistas entre os postulantes à cadeira de Maia tem sido,
até agora, com o vice-presidente Marcos Pereira, e com o próprio Arthur Lira.
Ambos, entretanto, são considerados muito próximos do presidente Jair
Bolsonaro.
Aguinaldo
seria uma solução menos amarga, mas dificilmente embarcará em uma candidatura
avulsa. O exemplo mais recente dessa aventura, em 2005, acabou na eleição de
Severino Cavalcanti (PP-PE), morto neste ano. Ele comandou a Casa por sete
meses, até renunciar, diante das denúncias do “mensalinho”.
O
racha no PT favoreceu a vitória do azarão. O candidato oficial da sigla era o
deputado Luiz Eduardo Greenhalgh (SP), que venceu o primeiro turno. Mas o
também petista Virgílio Guimarães (MG), que concorreu como avulso, obteve 117
votos, e empurrou o desfecho para o para o segundo turno.
Em
suma, a dois meses da eleição, o cenário é nebuloso, e a disputa tende a ser
voto a voto. Se vivo fosse, e acompanhasse a política nacional, Drummond diria
a Maia: “Vai ser ‘gauche’ na vida”.
PT
e o Acre
A
derrota nas 26 capitais pela primeira vez desde 1985 é um dos piores revezes do
PT desde a sua fundação, há 40 anos. Mas uma leitura mais detalhada dos números
deveria acender mais luzes amarelas na cúpula da legenda.
Um
decano do partido questiona, por exemplo, por que o PT não elegeu sequer um
vereador em Rio Branco, capital do Acre. Em dimensão eleitoral, parece
desimportante, mas esse resultado tem um simbolismo incômodo.
Somados
os períodos em que o PT esteve no comando da Prefeitura de Rio de Branco e do
governo do Acre, são 38 anos de administrações petista nas esferas municipal e
estadual.
Foram
18 anos não consecutivos na prefeitura, e mais 20 anos consecutivos no governo
estadual, entre 1999 e 2018, onde se revezaram os irmãos governadores Jorge e
Tião Viana, e no intervalo entre eles, Binho Marques.
Pode-se
argumentar que o eleitorado do Acre, assim como o da Região Norte, tornou-se
majoritariamente bolsonarista. Mas a esquerda elegeu vereadores em Rio Branco.
PDT e PSB fizeram seis dos 17 titulares da Câmara Municipal.
Se
o Acre não tem expressão eleitoral, o PT pode direcionar a lupa para os quatro
Estados do Nordeste, governados por petistas: Bahia, Ceará, Rio Grande do Norte
e Piauí. Nenhum desses governadores conseguiu levar candidatos do PT à
Prefeitura das capitais ao segundo turno.
O
caso da Bahia é alarmante: sem lideranças expressivas nos grandes centros (São
Paulo, Rio de Janeiro e Minas Gerais), o PT pode perder em 2022 o comando do
quarto maior colégio eleitoral do país.
O
exemplo de Rio Branco aplica-se à Bahia do ex-governador Jaques Wagner, e de
seu sucessor, Rui Costa, que tem 80% de aprovação popular. Após 14 anos no
comando do Estado, o PT sai desta eleição com três vezes menos prefeituras do
que seus futuros adversários. Dos 417 municípios baianos, o PT governará 32
prefeituras.
O PSD do senador Otto Alencar, pré-candidato à sucessão de Rui Costa, elegeu 108 prefeitos. O DEM do prefeito ACM Neto, também pré-candidato ao governo, fez 37 prefeitos, inclusive Bruno Reis, em Salvador. Se o senador Jaques Wagner não for candidato em 2022, o PT corre o risco de ceder a cabeça de chapa, e ficar sem o comando do Estado que entregou 72% dos votos para Fernando Haddad em 2018.
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