Com
voto facultativo na prática, candidatos terão de se virar para convencer o
eleitor a sair de casa
Por
lei, o voto continua obrigatório. Na vida real, está mais facultativo a cada
eleição. Um em cada três eleitores decidiu não votar no domingo. A abstenção
avançou na década e, agora, mais que dobrou em relação às eleições municipais
de 2000. Na cidade do Rio, chegou a 35%. Somou 47% em Copacabana, o bairro de
maior densidade demográfica.
A
recusa voluntária de 1,7 milhão superou a determinação da escolha majoritária
nas urnas: Eduardo Paes (DEM) se elegeu com 1,6 milhão de votos, 91 mil abaixo
do volume de abstenção. Não ofusca sua vitória acachapante sobre o trêfego
pastor-prefeito, desde ontem em súplica por vaga no Ministério de Jair
Bolsonaro.
O vírus semeou medo. Foi real o temor da contaminação em Petrópolis. Há 15 dias, a cidade registrava a média de 100 infectados transmitindo para 110 pessoas. Na semana passada, a taxa saltou de 110 para 230. Resultado: abstenção de 35,6%, muito acima do primeiro turno (29,9%).
Mas
a pandemia também disseminou empatia. Beneficiou quem ficou contra o pandemônio
governamental, o negacionismo fomentado pelo Palácio do Planalto. Bruno Covas
(PSDB) esgrimiu com o argumento da Ciência e acabou premiado em São Paulo com
um milhão de votos de vantagem sobre o adversário e 400 mil acima do volume de
abstenção.
Porém
o mais notável efeito pandêmico foi deixar escancarado o desleixo pelo eleitor,
que espertos chefes partidários embutem na lei eleitoral.
Há
33 partidos registrados — outros 77 em formação—, todos acomodados numa
legislação que impõe bilionário financiamento anual dos partidos, o custeio
extraordinário de cada eleição, a propaganda subsidiada em rádio e televisão,
além da obrigatoriedade do voto. É dinheiro fácil do Erário e imposição do
dever de votar ao cidadão.
Acabou a moleza. A pandemia motivou, e a tecnologia ajudou a facilitar a justificativa de ausência. Na prática, o voto obrigatório já é facultativo. Partidos e candidatos terão de se virar para convencer o eleitor a votar. Caso contrário, assumem o risco de declínio na representatividade eleitoral, fórmula certa para a crise permanente.
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