Foi
um tombo histórico. Pela primeira vez, o PT não conquistou a prefeitura de
nenhuma capital. Um desempenho ainda pior que o de quatro anos atrás, quando só
venceu em Rio Branco.
Em
2016, o desastre era inevitável. O partido havia acabado de enfrentar o
impeachment de Dilma Rousseff e as prisões espetaculares da Lava-Jato. Agora
não há como culpar os outros. O petismo sucumbiu aos próprios erros — e parte
da sua cúpula ainda está em negação.
A presidente Gleisi Hoffmann tentou dourar a pílula. Exaltou a vitória em quatro cidades no segundo turno, embora a sigla tenha perdido em nove. Ela classificou o fiasco como uma prova de que a esquerda “sabe lutar”.
“Não
se pode converter derrota em vitória. Derrota é derrota”, reagiu Alberto
Cantalice, do diretório nacional do PT. Ele disse em público o que outros
dirigentes repetem em privado: sem uma renovação radical, o partido arrisca
perder de vez a ligação com o eleitor.
“O
antipetismo ficou maior do que o petismo”, desabafa um ex-ministro. Ele
considera que houve um “erro grave de leitura” em 2020. O PT apostou tudo na
imagem desgastada de Lula, subestimando sua rejeição nos grandes centros. Além
disso, recusou-se a apoiar outras siglas para lançar candidatos pouco
competitivos.
Em
São Paulo, a tática deu errado. Jilmar Tatto ficou em sexto lugar, com menos de
metade dos votos do PSOL. Em Belo Horizonte, Nilmário Miranda também acabou em
sexto, com 1% dos votos. No Rio, Benedita da Silva amargou a quarta colocação.
“Nós
envelhecemos”, admite outro ex-ministro que participou da fundação do PT. Ele
ressalta que as novas caras da esquerda emergiram fora da legenda: Guilherme
Boulos, do PSOL, e Manuela D’Ávila, do PCdoB. A exceção foi Marília Arraes,
derrotada no Recife.
O veterano diz que o PT precisa se reciclar e entender as mudanças da sociedade. As fábricas se esvaziaram, os sindicatos perderam força e os trabalhadores foram empurrados para a informalidade. Um dos públicos a conquistar agora seriam os entregadores de aplicativos. “Nosso drama não é só eleitoral. Para sair do fundo do poço, temos que nos reconectar com o povo”, resume.
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