Os
prefeitos eleitos terão que começar a trabalhar imediatamente, mesmo antes da
posse. Há desafios enormes. A boa notícia é que a situação das contas públicas
das cidades está melhor do que se imagina. Houve muita transferências do
governo federal neste ano, as cidades são menos endividadas do que os estados e
há prefeitura com dinheiro em caixa. O erro será usar isso para aumentar gastos
que não sejam os destinados às muitas urgências do momento. Na educação, serão
dois anos em um, na saúde há a pressão da pandemia, na arrecadação, o imposto
sobre serviços não vai se recuperar facilmente.
Eleição
sempre renova as esperanças de que os problemas sejam resolvidos mais
facilmente pelo gestor reeleito por causa de uma administração bem avaliada ou
pela eleição de um novo gestor que resgate a cidade de erros passados. Aqui na
coluna conversamos com alguns economistas que falam sobre a situação municipal.
Giovanna Victer é presidente do Fórum Nacional de Secretários Municipais de
Fazenda, e ela mesma é secretária de Niterói, onde o prefeito Rodrigo Neves, do
PDT, elegeu seu sucessor Axel Grael no primeiro turno.
—
Houve um aumento significativo do volume de transferências da União para os
municípios. O critério foi o Fundo de Participação dos Municípios (FPM) e sem
relação com a pandemia. Então houve cidade que teve mais receita do que gasto
com saúde e o contrário também aconteceu — diz.
Normalmente, cidades menores ou de regiões mais pobres têm um repasse relativamente maior pelo critério de distribuição. Houve também outra forma de socorro aos estados e municípios, que em alguns casos cobriu a queda de arrecadação.
—
Haverá município pequeno em que o novo prefeito vai encontrar dinheiro em
caixa. Minha preocupação é que esses prefeitos avancem sobre esses recursos e
contratem despesas permanentes — diz Giovanna.
O
problema é que esse caixa é “fictício”, como ela diz, porque vem dessas
transferências especiais. Mansueto também alerta que os recursos da cessão
onerosa não vão se repetir.
O
dinheiro que sustenta as grandes cidades é altamente dependente da atividade
econômica, como por exemplo o que vem do Imposto sobre Serviços. O setor tem
segmentos que não voltaram à normalidade. E dificilmente conseguirão no curto
prazo. E há muito a fazer no curto prazo:
—
Precisamos retomar as políticas habitacionais, porque isso cria emprego e são
muitos anos sem ter política de habitação. Tem impacto social importante. Vamos
ter urgências sociais, como a de trazer as crianças de volta às escolas, há
muitas abandonando as aulas, principalmente no Fundamental II. Precisamos de
logística para a vacinação. E temos o desafio da retomada econômica que depende
das políticas nacionais — explica Giovanna Victer.
Ela
acha que a prefeitura do Rio não está quebrada, ainda que tenha despesa
corrente maior do que a receita. Giovanna acredita que o Rio poderá aumentar a
arrecadação se suspender subsídios e se reorganizar a prefeitura com um freio
de arrumação.
No resto do país, Mansueto lembra que 684 municípios têm nota A de crédito e 809 têm nota B. Podem pegar empréstimo com o aval do Tesouro. Mesmo assim, prefeitos preferem procurar linhas da Caixa que são muito mais caras, mas mais rápidas. O Rio, por exemplo, pegou cinco empréstimos em 2017 e 2018, quatro na Caixa e um no Santander. Todos sem garantia da União. Mas em geral os municípios estão em situação melhor do que os estados e têm espaço para recomeçar com boa gestão.
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