População
vacinada produz impacto positivo na economia, nos investimentos, na retomada do
emprego, na educação, na cultura e na vida social
O Instituto
Butantan adiou o anúncio do nível de eficácia da vacina
Coronavac, que deveria ter acontecido hoje. A razão admitida foi a
de que ficou necessário consolidar os resultados dos testes finais com os dos
outros centros que vêm desenvolvendo o produto na China, na Indonésia e
na Turquia.
Mesmo
que o governo do Estado de São Paulo mantenha o início da vacinação para o dia
25 de janeiro e mesmo que o Instituto Fiocruz, do Rio
de Janeiro, também obtenha dentro de mais algumas semanas a vacina britânica
da Oxford,
não basta apenas contar com a aprovação da Anvisa,
a agência reguladora do setor, para dar início ao processo de vacinação em
massa, mesmo em caráter emergencial.
Ainda é preciso definir como o processo de imunização acontecerá. É preciso saber quais grupos terão prioridade, com que vacina, em que condições e com que logística será aplicada. Começar pelos profissionais de saúde e com os idosos de apenas um Estado é bem diferente de atender a esses segmentos preferenciais na maior parte do território nacional.
Esses
temas se tornaram essenciais, especialmente depois das confusões em que se
meteram o presidente Bolsonaro e seu ministro da Saúde, o general Eduardo
Pazuello.
Como
em tantas outras questões, Bolsonaro não se limitou a fazer opções erradas. A
maneira como vem lidando com a vacina se transformou em tiros em seus próprios
pés. Se é para condenar a quarentena e o isolamento social para que a economia
não desabe e, assim, produza estragos ainda maiores do que os da doença – como
ele próprio argumentou –, então seria melhor dar toda a força para a vacina, o
instrumento que abriria o caminho para a recuperação da economia.
Essa
postura negacionista em relação à covid-19 atendeu às necessidades eleitorais
do presidente: com uma economia em desabamento, como o que se seguiria ao
isolamento social, Bolsonaro perderia ainda mais apoio político e não teria
condições de se reeleger, como pretende. No entanto, porque viu que a vacina
salvadora do Butantan injetaria ar quente no balão de seu adversário político,
o governador João Doria, Bolsonaro resolveu atacar não só a Coronavac, mas
quaisquer outras vacinas. Com isso, viu seu próprio balão murchar ainda mais.
Uma
população vacinada não produz impacto positivo apenas na economia, nos
investimentos e na retomada do emprego. Produz, também, em outras atividades:
no ensino, no acesso à cultura, na vida familiar e na vida social. É preciso
repensar e enfrentar, por exemplo, os problemas que surgirão com o retorno às
aulas, mesmo antes da vacinação em massa. Pergunta inadiável: haverá vagas para
os alunos que perderam o ano e que se somarão aos que passaram a atingir a
idade escolar? As disparidades aumentaram. A população mais pobre não conseguiu
acesso ao ensino nem por meio digital, porque não tem computadores.
Hoje a vacina ainda é produto escasso. Há apenas cinco com eficácia comprovada. Mas logo virão outras. Pelos levantamentos da Organização Mundial da Saúde (OMS), há no mundo 223 em desenvolvimento, das quais 10 estão em fase final de testes.
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