Fux
tentou corrigir lambança, mas é difícil não enxergar a velha marca da busca por
privilégios
Luiz
Fux quis corrigir a lambança que foi feita quando o STF pediu a
reserva da vacina contra o coronavírus para 7.000 integrantes
do tribunal. A ideia era reduzir o desgaste provocado pelo episódio, mas a
explicação só mostrou que alguns vícios são mesmo incorrigíveis.
O
presidente do Supremo afirmou nesta quarta-feira (23) que a solicitação da
vacina era parte de um esforço "para não pararmos as instituições
fundamentais do Estado". Numa entrevista à TV Justiça, ele disse ter
"preocupação com a saúde dos servidores". "Tanto que o ambiente
está vazio", completou.
Fux inaugurou sua gestão em setembro, quando a marca de 100 mil mortos já havia sido ultrapassada. Os julgamentos aconteciam de forma remota, mas o galope da doença não o impediu de organizar uma cerimônia presencial para sua posse no comando da corte.
A
contradição não significa que o chefe do Judiciário seja indiferente à saúde
dos funcionários do tribunal, mas prova que alguns argumentos podem ser
facilmente manipulados de acordo com o momento. Nesse episódio, é difícil não
enxergar a busca por privilégios que se tornou a marca de certas instituições.
Para
defender a vacinação, Fux disse que a medida era importante para que o tribunal
pudesse "trabalhar em prol das pessoas que sofrem" com a pandemia. O
discurso pode parecer bonito, mas esconde o fato de que julgamentos e outras
atividades do tribunal vêm sendo feitas a distância. Grande parte da população
não tem essa vantagem e, sem a vacina, corre riscos para trabalhar.
A
Fundação Oswaldo Cruz negou a
solicitação e afirmou que não caberia ao órgão "atender a
qualquer demanda específica por vacinas".
Sob críticas, Fux tentou esclarecer o pedido. Ele disse que ninguém furaria a fila da vacinação e que o objetivo era garantir as doses depois que os grupos prioritários fossem imunizados. "O importante é que o Supremo Tribunal Federal teve essa preocupação ética", acrescentou, exaltando a própria bondade.
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