Legenda: Graziela e Gilvan Cavalcanti de Melo foram liberados na Polícia
Marítima às 11 horas
Exilados voltam e passam o Natal explicando por que voltaram sem passaportes
Fora do país há seis anos, absolvido em setembro último da acusação de
pertencer ao PCB, o ex-funcionário do INPS Gilvan Cavalcanti Melo, chegou do
Panamá com a mulher e os dois filhos, no domingo e foi preso. A Embaixada do
Brasil informara que poderiam desembarcar só com a carteira de identidade, mas
a polícia deteve o casal por 12 horas durante a noite de Natal, para saber
porque estavam sem passaportes.
O Sr. Gilvan e D. Graziela Cavalcanti Melo passaram a noite num sofá da
Delegacia de Polícia Marítima, onde foram interrogados ontem de manhã e
liberados depois de preencherem um questionário mimeografado. Os filhos, Gilvan
de 16 anos, paralítico, e Ana Amélia, de 12, foram dispensados pela polícia
ainda no aeroporto e ficaram com parentes.
GARANTIA
Hoje, com 43 anos, o Sr. Gilvan de Cavalcanti Melo, nascido em Pernambuco, foi
demitido do INPS por decreto baseado no AI-5, em 1972, sob a acusação de
pertencer ao Partido Comunista Brasileiro. Logo após foi com a família para
Buenos Aires, Porto Alegre e finalmente Santiago onde trabalhou na Corporação
de Fomento.
Com a derrubada do Governo Allende, asilaram-se na Embaixada do Panamá, país
onde o Sr. Gilvan conseguiu trabalho numa empresa de administração. Morou
durante algum tempo em Cuba que lhe forneceu documento de identidade.
Ao saber de sua absolvição em processo na 2ª Auditoria da Marinha em 19 de
setembro, o Sr. Gilvan consultou a Embaixada do Brasil no Panamá e recebeu a
garantia de que poderia voltar normalmente apenas com a carteira de identidade
brasileira emitida em 1972 se viajasse por uma empresa aérea brasileira.
A família embarcou num voo da Varig às 8,43 de domingo e chegou ao Aeroporto
Internacional do Rio às 19,50. Levados para a Polícia Marítima e Aérea, o casal
e os dois filhos foram informados de que teriam que prestar depoimentos, por
não estarem com passaportes.
Após entendimento com os policiais, o Sr. Gilvan conseguiu que os filhos fossem
liberados, enquanto ele e a mulher eram levados à sede da Polícia Marítima, na
Av. Rodrigues Alves. Ali passaram a noite do Natal, recostados num sofá. O
advogado Humberto Jansen chegou à delegacia às 7hs, mas só conseguiu liberar o
casal, às 11h, depois que os dois prestaram depoimentos de uma hora cada um.
No
questionário tiveram que informar as condições de saída do país, como viviam e
onde trabalhavam no exterior e porque voltaram. “Agora o que quero fazer mesmo
é assistir um jogo do meu Vasco”, disse o Sr. Gilvan.
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