Bolsonaro,
impopular, poderá reagir com populismo na economia
Este
final de ano está uma festa, mas que beira à irresponsabilidade. Não só pelas
ruas cheias. Crescem os excessos fiscais e o mercado mostra-se complacente.
A
Lei de Diretrizes Orçamentárias, desconectada das crises fiscal e de saúde,
produziu mais rigidez nos gastos. A lei blindou 59 projetos “prioritários” de
bloqueio de verbas, muitos da Defesa, e aumentou o poder discricionário do
Legislativo na destinação de recursos, por meio de emendas parlamentares.
A
chamada PEC Emergencial, que visa principalmente ao alívio na folha do
funcionalismo, foi adiada pelo Senado para 2021. É emergencial só no nome e fez
falta para navegarmos 2020, não só para conter a deterioração das contas
públicas, mas também para prover (alguma) isonomia entre trabalhadores do setor
público, ilesos na crise, e do setor privado, sofrendo com o desemprego e a
queda de rendimentos. Os sinais, por ora, são negativos, pois as medidas são
superficiais e tímidas.
Um imbróglio recente é a proposta de aumento do Fundo de Participação dos Municípios, em fase final de tramitação. A medida vai contra o ajuste fiscal e deveria estar associada a uma discussão mais ampla sobre a mudança do pacto federativo. Mesmo assim, o governo não pediu a retirada de pauta.
A
pressão para mais gastos é proporcional à fraqueza do governo e à falta de
convicção sobre o ajuste fiscal. Na falta de agenda sólida do Executivo, o
Congresso trata de cuidar de seus assuntos. Esquerda e direita se encontram no
receituário de aumentar gastos, enquanto o momento pede rigor no direcionamento
de recursos, em qualidade e quantidade.
A
inépcia do governo ainda não bateu plenamente na sociedade. As avaliações do
governo em dezembro – DataFolha, CNI Ibope e XP Ipespe – mostram resiliência,
mesmo com a redução do auxílio emergencial de R$ 600 para R$ 300. A soma de
ótimo e bom está em 35%-38% ante 29%-35% há um ano. A aprovação líquida (aprova
menos desaprova) está no campo positivo, entre 2% e 5%, ante -9% e -4%.
O
caráter global da crise de saúde e a responsabilidade partilhada com os entes
da Federação ajudam a poupar o presidente. E seu discurso sobre “encarar” a
doença e que o isolamento prejudica a economia tem aderência em segmentos da
sociedade. Assim, diminuiu a porcentagem dos que acham a gestão da saúde ruim
ou péssima, de 58% em maio para 48%. Além disso, caiu a adesão ao isolamento
social, mesmo em meio à segunda onda da Covid-19.
A
pandemia desviou a atenção da precária agenda governamental e a sociedade
parece dar o benefício da dúvida ao governo. Ajuda o fato de os erros de
política econômica não se materializarem rapidamente. A aprovação de Dilma caiu
de forma mais crítica apenas no segundo mandato, quando chegou a fatura dos
erros do primeiro.
No
entanto, a queda de aprovação poderá vir mais cedo para Bolsonaro, que tantas
promessas fez. Alguns fatores contribuem para isso.
A
sociedade amadurece e a cobrança cresce. Interessante citar o aumento da
intenção das pessoas de poupar sobras do orçamento (de 37% em julho para 69% em
dezembro), segundo pesquisa da Febraban/Ipespe. Talvez como lição da pandemia,
há uma maior preocupação com o futuro. Um sinal de maturidade.
A
ausência de vacinação tempestiva deverá cobrar seu preço. A comparação mundial
deixa o Brasil inquestionavelmente mal. Mesmo em outros “negacionistas” a vacina
chega mais cedo, como México e EUA. E não se pode acusar falta de recursos.
Finalmente,
apesar da resiliência da aprovação, o quadro é delicado, pois Bolsonaro é muito
menos popular do que os presidentes anteriores em primeiro mandato. Pela
CNI-Ibope, a aprovação líquida de FHC e Lula foi de 21%; de Dilma, 32%; e a de
Bolsonaro está em 2%. A confiança (líquida) no presidente tem média negativa,
de -7%, enquanto FHC tinha 19%; Lula, 25%; e Dilma, 28%.
Bolsonaro,
impopular, poderá reagir com populismo na economia, aumentando ainda mais o
risco de derrapagem. Em que armadilha o País se meteu...
*Consultora e doutora em Economia pela USP
Nenhum comentário:
Postar um comentário