Se
desempenho de oficial à frente da Saúde equivale ao de nosso Exército, então
Bolívia pode conseguir saída para oceano Atlântico
Na
tentativa de entender melhor a cabeça dos militares, que ocupam espaço cada
vez maior no governo brasileiro, comprei, baixei e comecei a ler
"War" (guerra), da historiadora Margaret MacMillan. Não me arrependi.
A
tese central da autora é simples. A guerra é muito mais central para o ser
humano do que estamos dispostos a admitir. E ela não serve só para matar gente.
Muitos dos avanços científicos, tecnológicos e até de organização da sociedade
resultaram de conflitos. O forte do livro, porém, não são teorias, e sim as
boas histórias que conta sobre guerras, militares e os que teorizaram sobre
isso.
Examinemos o caso da intendência. O general alemão Erwin Rommel não foi nada ambíguo em relação ao que achava dela: "A condição essencial para um exército ser capaz de suportar batalhas é um estoque adequado de armas, combustível e munição. Na verdade, as batalhas são travadas e vencidas pelos oficiais de intendência antes de os tiros serem disparados".
E,
se sempre foi vital garantir armas a guerreiros, a intendência ganhou ainda
mais importância nos conflitos modernos. Foi a introdução de serviços de
higiene, como a lavanderia, na 1ª Guerra que fez com que, pela primeira vez,
doenças não causassem mais baixas que o fogo inimigo.
A
intendência alterou a natureza do conflito, já que permite que ele tenha
duração indeterminada. Nas batalhas antigas, a peleja não podia ir além da
comida disponível nas imediações. Pior, ao fazer a ligação entre a capacidade
de produção de um país e sua performance na guerra, a logística borra a
distinção entre alvos legítimos e ilegítimos. O operário civil de uma fábrica
de uniformes pode ser abatido?
Bolsonaro
entregou o Ministério da Saúde a um oficial
de intendência. Se seu desempenho à frente da pasta é representativo
do de nosso Exército, então a Bolívia poderá conseguir sua tão sonhada saída
para o mar, pelo Atlântico...
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