A
última semana, como um início de cerco a Bolsonaro, deu-lhe os ares e os atos
de desespero
“Periculosidade social na condução do cargo”.
Uma qualificação judicial que parece criada para resumir as razões de
interdição de Bolsonaro.
Embora
a expressão servisse ao ministro Og Fernandes (STJ) para afastar o secretário
de Segurança da Bahia, ajusta-se com apego milimétrico a quem incentiva a
população a riscos de morte ou sequelas graves, com a recusa à prevenção e ao
tratamento científico.
Já
em seu décimo mês, e sem qualquer reparo das instituições que, dizem, “estão
funcionando”, a campanha de Bolsonaro e as medidas de seus militares da Saúde
chegam ainda mais excitadas e perigosas ao seu momento crucial.
Quem
observou os movimentos reativos que o caracterizam por certo notou que é também
dele a vulgar elevação da agressividade quando o medo, a perda de confiança, o
pânico mesmo, são suscitados pelas circunstâncias. A última semana, como um
início de cerco a Bolsonaro, deu-lhe os ares e os atos de desespero.
O confisco da vacina Sinovac-Butantan pelo governo federal, toda a vacinação concentrada no militarizado Ministério da Saúde, a exigência de responsabilização do vacinado por hipotéticos riscos foram alguns dos foguetes hipotéticos que mostravam um Bolsonaro se debatendo, aturdido. Nem a liberação total para armas importadas abafou a onda crítica.
A revelação de
participações da Abin na defesa de Flávio Bolsonaro (feita
por Guilherme Amado na Época), apesar da rápida e óbvia negação da agência e do
general Augusto Heleno, desarvorou Bolsonaro.
Estava
em mais uma de suas fugas reeleitoreiras de Brasília, em desavergonhadas
advertências de deformações ridículas em vacinados, quando o Supremo desmontou
suas trapaças contra a liberdade de ação dos estados e municípios na pandemia.
E,
boa cereja, a advogada Luciana Pires confirmou o
recebimento de instruções da Abin para a defesa de Flávio, um
truque para anulação do inquérito.
A
explosão, incontível, não tardou. Na mesma quinta (17), Bolsonaro investe
contra a imprensa, atiça as PMs contra jornalistas. Em fúria, faz os piores
ataques aos irmãos donos de O Globo. Sem apontar indícios das acusações.
Se
verdadeiras, por que não as expôs, para uma CPI, quando na Câmara representava
os “militares anticorrupção”? Ou, presidente, não determinou o inquérito, como
de seu dever? Nos dois casos, o silêncio é conivência criminosa. Sendo
inverdadeiras as acusações, desta vez feitas a pessoas identificadas, sua
entrada no Código Penal é pela mesma porta, a dos réus.
O
gravíssimo uso da Abin, entidade do Estado, para proteger Flávio Bolsonaro e o
desvio de dinheiro público, caiu em boas mãos,
as da ministra Cármen Lúcia no Supremo. Troca de vantagens não
haverá, medo não é provável.
Isso
significa atos mais tresloucados de Bolsonaro. E um problema para e com os
militares que, no governo, em verdade são a guarda pessoal de Bolsonaro.
Não
só, porque o general Augusto Heleno, o Heleninho sempre protegido e bem
situado, está comprometido dos pés à cabeça. A distância pode ser pequena, mas
bastante para o autoritarismo militar sacudir a pouca poeira que resta.
A
propósito, a menção ao general Heleno no artigo anterior o levou a vários adjetivos
insultuosos a mim, concluindo por me dizer “pior como ser humano”. Essa
expressão, ser humano, me lembrou uma curiosidade de muitos e que o general é o
indicado para esclarecer: quantos seres humanos mortos pesam em suas costas,
pela mortandade que ordenou sobre
a miséria haitiana de Cité Soleil?
A
ONU pediu ao governo brasileiro sua imediata retirada de lá, exclusão sem
precedente nas tropas de paz, e a imprecisão sobre as mortes, dezenas ou
centenas, perdura ainda.
Já
no caso da Abin, pode-se desde logo esperar algumas respostas interessantes. E
cáusticas.
O
CERTO E O OUTRO
Diretor
do Butantan, Dimas Covas venceu a divergência sobre o surgimento das vacinas.
Militares da Anvisa só a previam para meado de 2021, até mesmo só no segundo
semestre. Muitos pesquisadores e médicos. Dimas esteve só, ou quase, antevendo
a vacina ainda para este ano.
Por
fim, o Natal vem aí, sim, mas certifique-se. Na quinta, o general-ministro
Pazuello disse três vezes, sempre com a segurança de suas estrelas, que
“janeiro é daqui a 30 dias”. E depois, sobre a aplicação da
vacina: “A data precisa é... janeiro”.
Sem
dúvida, é um grande general, como disse Bolsonaro ao apresentá-lo.
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