Ganha
uma fritada de morcego do mercado chinês de Wuhan quem for capaz de
mencionar uma só fala
de Jair Bolsonaro que tenha contribuído para o bem-estar da
saúde nacional desde o começo da pandemia do coronavírus.
Mesmo
quando ele fez um arremedo de conserto, dizendo que, “se algum de
nós extrapolou ou até exagerou, foi no afã de buscar solução”,
estava iludindo a boa-fé do público. Um dia antes ele havia dito que “não vou
tomar a vacina e ponto final”.
A “gripezinha”
e a cloroquina tornaram-se símbolos do amargo folclore do
capitão. A eles juntam-se outros, como o estímulo ao desmatamento, as “rachadinhas”
de Fabrício Queiroz e o orgulho de
seu chanceler ser um “pária” no cenário internacional. Nunca na
História do Brasil o trem parou e o maquinista queria andar para trás. Ele
parava, mas se discutia quando voltaria a andar para a frente.
Há
em Bolsonaro uma perigosa mistura de ignorância pessoal com autoritarismo
político. Ele pode ter acreditado na gripezinha ou mesmo nos efeitos milagrosos
da cloroquina. Chamou a possibilidade de segunda onda de “conversinha”, e na
quinta-feira (17) voltou-se ao registro de mil mortes por dia. Talvez tenha
apenas apostado, mas nesse caso estaria apenas exercitando a ignorância de
outra maneira. O perigo mora na mistura com o mandonismo.
Bolsonaro
irradiou esse comportamento pela sua administração, produzindo apenas uma
bagunça arrogante. Por exemplo: em outubro o general-ministro
Eduardo Pazuello disse que “a vacina do Butantan será a vacina
do Brasil”. No dia seguinte, Bolsonaro acordou cedo e respondeu no Facebook que
a vacina “NÃO SERÁ COMPRADA”. Como se viu, será comprada e oferecida, pois o
capitão ficou preso num cadeado do governador João Doria.
O
general Pazuello disse a parlamentares: “Não falem mais em isolamento social”.
Pensou que falava a uma plateia de tenentes. Ele perguntou “para que essa
ansiedade, essa angústia?” e depois explicou que sua frase foi
tirada do contexto, desculpando-se. É o caso de se perguntar qual medicação
está tomando desde que teve alta da Covid.
Já um diplomata de carreira designado para embaixada junto à Organização das Nações Unidas em Genebra recusou-se a responder a uma pergunta da senadora Kátia Abreu dizendo que não estava “mandatado” para isso. Tomou um contravapor do senador Major Olimpio e perdeu o cargo. Foi rejeitado por 37 votos contra 9. (Afora o mau português, podia ter respondido de outra forma, mesmo sem dizer nada.)
Trabalhando
com um chanceler que se orgulha de ser “pária”, o embaixador levou a
excentricidade para o lugar errado. A pandemia expôs a bagunça diante de uma
dificuldade que daqui a pouco terá matado 200 mil pessoas. Os brasileiros ligam
as televisões e veem cenas de imunização nos Estados Unidos, França, Inglaterra
e Arábia Saudita. Como lembrou Fernando Gabeira, só em Pindorama a vacinação
virou tema de debate.
EREMILDO,
O IDIOTA
Eremildo
é um idiota, nunca tomou
vacina nem vai tomar. Por isso também acha que o Supremo
Tribunal Federal tomou “uma medida inócua”.
O
que o cretino não entendeu foi outra frase de Bolsonaro: "Quando se fala
em vacinação e saúde, tem que ter uma hierarquia".
Eremildo
torce para que o presidente explique como funcionará essa hierarquia e se
dispõe a ir de casa em casa levando cloroquina para quem ficar de fora.
Eu apalpo, você fica nervosa
O
deputado Fernando Cury (Cidadania) apalpou sua
colega Isa Penna (PSOL) ao vivo e a cores diante da Mesa
Diretora da Assembleia Legislativa de São Paulo. (Ela estava de costas.)
Depois
do episódio, o presidente da Casa, Cauê Macris, disse que não poderia liberar
as imagens. Pressionado pela deputada com um discurso e pelas lideranças
partidárias, mudou de ideia.
Casado, Cury foi à
tribuna, reiterou um pedido de desculpas e disse que jamais tomou
intimidades indevidas com mulher alguma. O doutor tem o benefício da dúvida e
empenhou sua palavra.
A
porca torce o rabo quando se vê que, no dia seguinte, Cury foi à tribuna e,
explicando-se, disse que depois de ter sido apalpada, sua colega “estava
nervosa”, “ficou brava” e diante de uma nova tentativa de pedido de desculpas,
“ela começou a gritar, a me xingar”.
Certo mesmo é que Fernando Cury se defende recriminando a conduta de uma mulher, nervosa, brava, xinguenta e gritona. Está tudo na rede: o vídeo da apalpada, o discurso da deputada e a explicação de Cury.
Forster
e Biden
Os
trechos conhecidos dos telegramas mandados pelo embaixador brasileiro em
Washington, Nestor Forster, depois da vitória de
Joe Biden ilustram a bagunça que o orgulhoso pária Ernesto
Araújo impôs à Casa do Barão.
Forster
foi aplicado ao mostrar que Donald Trump pretendia contestar a vitória de
Biden. Nesse sentido, fez seu serviço. Em nenhum momento o embaixador sugeriu
que Bolsonaro cumprimentasse o vencedor. Poderia ter feito, mas também não
sugeriu o contrário.
Os
Estados Unidos não são uma ilha perdida, para que o cumprimento ao eleito
dependa de sugestão do embaixador. Quem levou 38 dias para
reconhecer a vitória de Biden foi Jair Bolsonaro. Forster foi
para a linha de tiro pelas convicções bolsonaristas que o levaram ao cargo.
O
PREÇO DA XENOFOBIA
A
Alemanha bloqueou a entrada da Turquia na Comunidade Europeia por diversos
motivos, entre os quais o discreto racismo de uma parte de sua população contra
imigrantes.
Há
décadas a Alemanha não fazia uma boa figura no mundo da tecnologia como a que
conseguiu agora com a vacina desenvolvida pelo seu laboratório BioNtech, para a
Pfizer americana. Sediado em Mainz, foi criado por um casal de turcos. Ele,
nascido em Iskenderun, ela, filha de uma médico que emigrou.
PROMOÇÕES
MILITARES
A
bagunça bolsonariana funciona até quando o capitão volta atrás. Três dias
depois de ter acabado com as promoções por antiguidade de oficiais aos postos
de coronel ou capitão de mar e guerra, ele revogou o ato. O decreto revogado
não era um jabuti.
A
ideia do fim da promoção por antiguidade nessa patente ampara-se em bons
argumentos e foi proposta por autoridades militares que entendem do assunto.
A
piada tem um século, mas, quando um oficial disse ao major
Joseph Veller, da missão militar francesa, que um colega aprenderia
com a experiência, ele respondeu: “O burro do duque de Saxe assistiu a mais de
cem batalhas e continuou sendo um burro”.
CONTEM
OUTRA
Há
algo no ar além do vírus. Quatrocentos empresários tinham marcado para a
quinta-feira um almoço em homenagem ao presidente Jair Bolsonaro e seu
antecessor, Michel Temer.
No
domingo o ágape foi cancelado, diante do aumento do número de casos de Covid.
Contem outra. Dias antes do cancelamento, quando os convites circulavam, pela
média móvel semanal estavam morrendo 544 pessoas.
BOLSONAVAC
O governador
João Doria continua sob os efeitos de sua Bolsonavac. Em uma
semana, limitou-se a dar uma breve resposta às provocações de Bolsonaro.
Preferiu presenciar o desembarque de vacinas.
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