Se vacinação e distanciamento funcionarem, vida passa a melhorar no meio do ano
Em
abril, o número de mortes por Covid-19 em São Paulo deve começar a cair graças
à vacina, se der certo o plano
do governo paulista. Com base em premissas otimistas, a vacinação
pode derrubar o morticínio em 64%. Atualmente, morrem 154 pessoas
por dia no estado; em abril, morreriam então mais de 50 (no início de novembro,
eram 85 mortes diárias).
Os
números importam, mas dizem pouco sobre como pode ser a vida depois da primeira
onda de vacinação: ainda difícil. Até 22 de março, terão sido vacinadas pessoas
com mais de 60 anos, gente da saúde, indígenas e quilombolas, nove milhões de
pessoas, apenas um quinto da população.
Mas,
com vacina e com os cuidados
de distanciamento que tomávamos em outubro, poderíamos reduzir o
número de mortes diárias à casa da dezena em meados de 2021. Se a Coronavac
também evitar contágios, a menos ainda.
As
vacinas derrubariam o número de mortes em abril porque em grande parte seriam
aplicadas no grupo que padece mais da doença. Cerca de 77% dos mortos em São
Paulo tinha 60 anos ou mais. Quase 0,5% dessa população morreu de Covid-19, uma
pessoa em duzentas, um horror.
A hipótese otimista depende de premissas esperançosas sobre taxa de vacinação e da eficácia da Coronavac.
Supôs-se
que a eficácia dessa vacina seja de 86%, similar à da sua prima Sinopharm,
número até agora não publicado com rigor técnico, porém. Supôs-se ainda que sua
efetividade na vida real seja idêntica à da eficácia na fase de testes.
Supôs-se também, de modo heroico, que a Coronavac seja aplicada em tantos
idosos quanto aqueles que receberam a vacina de gripe no ano passado (97,6%, em
São Paulo). Mas Jair Bolsonaro faz campanha criminosa de desmoralização da
vacina. Pode ser que a adesão caia para 75%.
Eficácia
e efetividade de 86% significa que uma de cada sete pessoas vacinadas estará
sem proteção. Os hospitais ficarão menos cheios, mas o risco individual ainda
será relevante.
Por
eficácia entende-se por ora a capacidade da vacina de proteger as pessoas dos
efeitos graves da doença. Não se sabe se as vacinas disponíveis evitam (ou
limitam) a transmissão. Cientistas acreditam que, em alguma medida, as vacinas
em geral possam limitar o contágio. Isto é, fazer com que o vacinado e
infectado espalhe menos o vírus. Assim, mesmo sem terem sido vacinadas, menos
pessoas adoeceriam, tudo mais constante. Por tabela, haveria menos padecimento
econômico.
Tão
cedo não haverá informação sobre isso. Será preciso acompanhar grupos de
vacinados por uns quatro meses, fazendo testes de contaminação algo
complicados.
Em
suma, em abril a vida ainda estará prejudicada. Para diminuir o prejuízo, será
preciso vacinar o grupo de 40 a 59 anos, que conta quase 20% das mortes (e
equivale a 27,5% dos paulistas).
A
fim de conter a tragédia educacional, social e psicológica do fechamento das
escolas, talvez seja preciso vacinar os 470 mil professores do ensino básico (e
quantos mais funcionários de apoio?). Não haveria vacina bastante na primeira
rodada. Uma segunda rodada de mesmo tamanho e velocidade da primeira estaria
completa apenas em fins de maio.
Até
abril ainda estaremos sujeitos a um aumento pavoroso do número de mortes. Até
agora, não temos vacina. Assim que tivermos, não podemos dar ouvidos a
genocidas. Temos de nos vacinar tanto quanto nas campanhas antigripe e seguir
os cuidados que em outubro ajudaram a reduzir o morticínio. Com menos casos,
talvez enfim possamos testar, rastrear e isolar os doentes.
Há jeito de dar cabo da peste.
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