Brasil assiste à vacinação alheia, Maia avança na
Câmara e Bolsonaro às voltas com Abin
Rodrigo Maia (DEM)
ao centro, Gleisi Hoffmann (PT) à esquerda e Luciano Bivar (PSL) à direita, ao lado de presidentes e líderes de 11
partidos – todos eles, não à toa, de máscara – marcam não apenas a disputa pela
presidência da Câmara em fevereiro de 2021, mas um movimento que
significa o seguinte: para além das diferenças, a prioridade é combater um
adversário comum. É preciso dizer qual?
Não se trata da união de todos na alegria e na
tristeza, até que a morte os separe, e nem mesmo que estarão juntos numa mesma
chapa em 2022 para enfrentar a reeleição do presidente Jair
Bolsonaro. Mas comprova o quanto Bolsonaro é competente para criar
inimigos, trocar de amigos e espicaçar os eleitores mais escolarizados e bem
informados – logo, com mais capacidade de influenciar votos.
A eleição para a presidência da Câmara se transformou num embate direto e virulento entre Bolsonaro, que tem o Centrão, e Maia, cujo desafio era, e é, aglutinar desde a esquerda até a direita hoje refratária ao bolsonarismo. O foco da disputa recaiu sobre o Republicanos, presidido pelo pastor Marcos Pereira, e o bloco de PT, PSB, PCdoB e PDT. O resultado é mais que natural.
Pereira só aceitaria compor com Maia como candidato
a presidente e fica mais confortável com o deputado Arthur Lira (PP),
apoiado por Bolsonaro, que não está nem aí para a pauta econômica, reformas e
privatizações, mas quer dobrar o Congresso em 2021 e 2022 para sua pauta
pessoal, de costumes, armas e excludente de ilicitude, um denso elenco de
retrocessos. E, objetivamente, o Republicanos é a sigla dos filhos de Bolsonaro
e de seus candidatos derrotados às prefeituras de São Paulo, Celso
Russomanno, e do Rio, Marcelo
Crivella. Pereira e o partido caíram na rede certa.
Nas esquerdas, imperou a força da militância.
Quando a bancada do PSB abanou asas para Lira/Bolsonaro, provocou uma rebelião
nas redes, foi obrigada a recuar e deixou uma lição para os parceiros da
esquerda: apoiar o candidato do Bolsonaro era uma fria. Assim, acabou liderando
as esquerdas para o trilho racional. Não custa lembrar que a eleição é secreta,
acordo com partidos não significa 100% dos seus votos e parte do PSB ainda
balança, mas Maia vai indo bem.
Ele, que joga seu futuro e a aglutinação de forças
da centro-esquerda à centro-direita para 2022, contra Bolsonaro, enfraqueceu-se
com a tentativa de reeleição à presidência no tapetão do Supremo. Mas, depois
da primeira carga de críticas, vem confirmando a habilidade política e
superando obstáculos. Falta o nome do candidato, que afunila para Baleia Rossi (MDB-SP).
Depois, é o tudo ou nada.
Após um hiato “paz e amor” num discurso lido,
Bolsonaro culpou Maia pela falta do 13º para o Bolsa Família neste ano. Mirou
no presidente da Câmara e acertou no ministro da Economia e no líder do
governo. Maia chamou Bolsonaro de mentiroso e ameaçou por em votação, já, a MP
que pode prorrogar o auxílio emergencial com R$600, estourando as contas
públicas. Sem saída, Guedes foi “obrigado” a admitir que é impossível dar o 13º
para o Bolsa Família e Barros eximiu Maia de culpa, dizendo que o governo é que
não queria. Logo, o ministro e o líder confirmaram Maia: o presidente mentiu.
Enquanto isso... o Brasil assiste EUA, UE,
Inglaterra, Canadá, Chile e até Arábia Saudita vacinando seus cidadãos e o
presidente muito ocupado em outras frentes. Se usa a Abin a serviço da família
presidencial, o delegado Alexandre Ramagem confirma indiretamente a suspeita de
que iria para a PF com essa mesma missão. Se mentir, é falso testemunho. Se
contar tudo, é explosivo. Isso fortalece, no Supremo e na opinião pública, as
acusações de Sérgio Moro contra o presidente. O centro se articula para 2022 e
acompanha tudo de camarote.
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