Demorou,
mas Rodrigo Maia enfim começou a mover as peças no tabuleiro da sucessão na
Câmara. Na sexta-feira, o deputado anunciou um bloco de 11 partidos para
enfrentar o candidato do governo. Conseguiu algo que até outro dia parecia
impensável: unir na mesma foto os presidentes de PT e PSL.
O
grupo redigiu um manifesto para justificar a aliança heterogênea. “Esta não é
uma eleição entre candidato A ou candidato B. Esta é a eleição entre ser livre
ou subserviente; ser fiel à democracia ou ser capacho do autoritarismo; ser
parceiro da ciência ou ser conivente com o negacionismo”, afirma o documento.
O
bloco superou as diferenças em nome de um objetivo comum: proteger as
instituições de um governo que se esforça para corroê-las. “Certamente, Ulysses
Guimarães estaria deste lado”, arriscou o presidente da Câmara. O Senhor
Diretas teria notado os riscos há mais tempo, mas cada um sabe o que fez em
2018.
Além de ter votado em Bolsonaro, Maia ajudou a sustentá-lo no poder. Ele liderou a aprovação da reforma da Previdência, que manteve o apoio do mercado ao presidente. Depois sentou-se sobre uma pilha com mais de 50 pedidos de impeachment. A blindagem teve o efeito de um salvo-conduto. O capitão continuou a cometer crimes de responsabilidade em série, ameaçando as instituições e sabotando o combate à pandemia.
Ainda
assim, a Câmara travou as pautas mais obscurantistas do Planalto. Impediu o
liberação geral das armas, vetou projetos contra o meio ambiente, preservou as
terras indígenas e protegeu direitos das mulheres e das minorias. Essas
barreiras tendem a sumir se Bolsonaro emplacar o sucessor de Maia.
Desengavetar
a agenda de costumes é vital para a reeleição de Bolsonaro. Apesar de ter se
rendido ao centrão, o governo precisa manter o clima de radicalização política
no ar. A retórica anticorrupção perdeu força após a deserção do soldado Moro e
a prisão do sargento Queiroz. Agora o capitão depende de temas como aborto,
ideologia de gênero e excludente de ilicitude.
No
papel, a arca de Maia reúne votos suficientes para vencer o governista Arthur
Lira. No entanto, siglas como PSL e PSB já embarcaram divididas. O presidente
da Câmara ainda precisa definir seu candidato, e a votação secreta aumenta o
espaço para traições.
A
oposição piscou para Lira, mas parece ter compreendido o perigo de entregar as
chaves da Câmara a Bolsonaro. Se for bem sucedido, o bloco contra o
autoritarismo pode apontar um caminho para 2022. Ninguém aposta numa frente tão
ampla que seja capaz de unir esquerda, centro e direita civilizada. Mas é
possível voltar a pensar numa grande aliança pela democracia no segundo turno.
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O embaixador Roberto Abdenur, entrevistado na coluna de quinta-feira, pede um registro sobre as suas críticas a Nestor Forster, atual embaixador do Brasil nos EUA. “Ele ligou para reclamar dos meus comentários. Tivemos uma conversa amistosa e concluí que fui injusto com ele”, diz Abdenur.
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