Camila Turtelli, Anne Warth e Ricardo Galhardo | O Estado de S. Paulo
Numa
ofensiva contra o Palácio do Planalto, o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ),
anunciou nesta sexta-feira, 18, a entrada de cinco partidos de
esquerda no bloco que formou para a disputa do comando da Casa, marcada
para 1.º de fevereiro. Agora, seu grupo conta com 11 legendas, que somam 281
deputados, mais do que os 257 necessários para um candidato se eleger. Não foi
desta vez, porém, que Maia anunciou o nome do parlamentar que será o seu
candidato.
A
intenção de Maia é derrotar o deputado Arthur Lira (Progressistas-AL),
líder do Centrão que conta com o apoio do governo de Jair Bolsonaro. Lira tem o
apoio de dez partidos, que somam 203 parlamentares.
A
adesão da esquerda ao bloco de Maia foi puxada pelo PT, maior bancada da Câmara, com 54 deputados, que
decidiu na noite de anteontem apoiar um nome do grupo liderado pelo atual
presidente da Casa. Em 2019, a sigla decidiu não apoiar o deputado do DEM na
disputa, o que lhe custou cargos no comando do legislativo.
Além do PT, PSB, PDT, PCdoB e Rede entraram no bloco que já tinha DEM, PSL, MDB, PSDB, Cidadania e PV. Como o voto para a presidência da Câmara é secreto, o apoio do partido não significa necessariamente que todos os deputados da sigla vão votar no mesmo candidato. A “traição” neste tipo de disputa, por sinal, costuma ser comum.
Maia
disse que a tendência é o grupo definir um nome de centro-direita como
candidato, mas não descartou a possibilidade de que ele saia, inclusive,
do campo da esquerda. Os preferidos do presidente da Câmara são Baleia
Rossi (MDB-SP) e Aguinaldo Ribeiro (PP-PB). “Este grupo que hoje
se apresenta tem muitas diferenças, sim. Porque, diferente daqueles que não
suportam viver no marco das leis e das instituições e que não suportam o
contraditório, nós nos fortalecemos nas divergências, no respeito, na
civilidade e nas regras do jogo democrático”, disse.
Ao
lado dos líderes dos 11 partidos do bloco, Maia leu uma carta em defesa da
democracia. Segundo ele, a Câmara ganhou projeção nos últimos anos por ter se
tornado a “fortaleza da democracia no Brasil, o território da liberdade,
exemplo de respeito e empatia com milhões de cidadãos brasileiros”.
Sem
citar Bolsonaro, o presidente da Câmara acusou o governo de autoritarismo e
citou Ulysses Guimarães, que presidiu a Casa em duas ocasiões: antes da
ditadura militar, entre 1956 e 1958, e na redemocratização, entre 1985 e
1989. “Enquanto alguns buscam corroer e lutam para fechar nossas
instituições, nós aqui lutamos para valorizá-las. Enquanto uns cultivam o sonho
torpe do autoritarismo, nós fazemos a vigília da liberdade. Enquanto uns se
encontram nas trevas, nós celebramos a luz”, disse. “Certamente, Ulysses
Guimarães estaria deste lado aqui e talvez repetiria em alto e bom som: Eu
tenho ódio e nojo das ditaduras.”
A
carta do bloco de Maia ressalta a diferença entre os partidos do grupo e
sustenta que ele é mais forte em razão dessas divergências. “Esta não é uma
eleição entre candidato A ou candidato B. Esta é a eleição entre ser livre ou
subserviente, ser fiel à democracia ou ser capacho do autoritarismo, ser
parceiro da ciência ou ser conivente com o negacionismo, ser fiel aos fatos ou
ser devoto de fake news”, diz.
Lira
reagiu com ironia ao anúncio do bloco por Maia. “Meu projeto é claro e está
posto. Mas eu queria saber uma coisa: quem é o candidato do Rodrigo Maia?”,
postou em uma rede social.
A
presidente do PT, deputada Gleisi
Hoffmann (PR), disse que a adesão do partido ao bloco não
significa apoio imediato às candidaturas preferidas por Maia. “Temos muito
respeito pelos companheiros Aguinaldo e Baleia, mas a oposição construirá um
nome para apresentar ao bloco também como alternativa”, disse.
Ela
reconheceu que o bloco reúne partidos que divergem sobre várias pautas,
sobretudo a agenda econômica. “Temos muitas diferenças e já travamos muitos
embates nessa Casa, mas temos uma pauta que nos une, a defesa da democracia,
das instituições e da liberdade dessa Casa”, acrescentou, ressaltando que o
bloco espera ainda contar com o apoio do PSOL.
Até
o início desta semana, um grupo de parlamentares, líderes sindicais e
ex-dirigentes do PT defendiam apoio a Arthur Lira. O movimento foi barrado pela
bancada na quinta-feira com a aprovação de uma resolução que proibia o apoio do
partido a candidatos ligados a Bolsonaro. Depois da derrota, este grupo, junto
com dissidentes do PSB, passou a defender o lançamento de uma candidatura
própria, o que pulverizaria as candidaturas e beneficiaria Lira.
A
agenda mínima proposta pela oposição tem como ponto fundamental o respeito ao
critério da proporcionalidade das bancadas na escolha dos cargos na Mesa
Diretora e comissões. Em 2019, o PT não apoiou Maia e mesmo tendo a maior
bancada da Casa ficou sem nenhum cargo na mesa e sem a presidência de
comissões.
A oposição avalia que Maia jogou errado, apostou que o Supremo Tribunal Federal (STF) autorizaria sua reeleição, e enfrentou dificuldade para unificar seu bloco em torno de um nome. Por isso, o presidente da Câmara teria ficado dependente da oposição, que tem 133 parlamentares e pode ser a fiel da balança na disputa contra Lira.
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