Custos
serão altos, mas ainda mais grave é o número assustador de mortes que a doença
continuará produzindo, por causa e entre os negacionistas
Não
se preocupe, se você se vacinar direitinho, tomar as duas doses como
recomendado, não vai ser infectado por negacionistas, seja um vizinho, um
parente, um amigo ou um desconhecido com quem esbarrar na rua. Você estará
imune. Do ponto de vista da sua saúde ou da sua família, não precisa fazer mais
nada, embora seja conveniente manter o uso de máscaras por ainda algum tempo.
Também não custa nada lavar sempre as mãos com bastante água e sabão. Seu
problema será outro e terá natureza financeira. Você vai solidariamente pagar a
conta que os que se negaram a tomar a vacina contra a Covid acabarão gerando
para os cofres públicos. E ela não será pequena.
Imagine o cenário final, pós-vacinação. Neste momento, 46 milhões de brasileiros, ou 22% da população, não estarão imunizados e continuarão a exercer pressão sobre a rede pública de saúde. Se hoje os leitos dos hospitais estão quase 100% ocupados por pacientes com Covid, no futuro terão 22% da sua capacidade tomada por pessoas infectadas por uma doença que poderia ser evitada. Quem vai pagar esta conta? Você e eu. Na verdade, este volume pode ser maior, se os planos de saúde corretamente se recusarem a pagar internações hospitalares e remédios de quem se recusou a se vacinar. Se a doença era evitável, os planos vão recorrer e os pacientes com planos poderão acabar na rede pública.
Se
a Justiça acabar obrigando os planos de saúde a pagar as contas dos
negacionistas, o que sempre é possível, mesmo assim você e eu arcaremos com um
custo adicional. Ninguém aqui é bobo, claro que os planos repassarão a conta
para toda a sua clientela. Nós.
Haverá
ainda outros custos indiretos gerados pelos negacionistas mas que serão arcados
por nós. Primeiro, calcule o impacto que terão sobre a cadeia produtiva quando
o mundo voltar ao normal. Se uma gripezinha de influenza afasta uma pessoa por
dois ou três dias do trabalho, uma infecção pela Convid pode tirar o
funcionário por até 14 dias da linha de produção, quando não o afastar
definitivamente. Isso tem um custo que as empresas pagam e repassam aos preços
dos produtos e serviços que você e eu iremos consumir.
Os
não vacinados vão também compor uma nova estatística de morbidade no Brasil.
Com a vida de volta ao normal, os 22% de não vacinados serão eventualmente
contaminados e muitos vão morrer. Aos números. Mantida a média de 1.000 óbitos
por dia, morrerão então 220 negacionistas a cada 24 horas. Em um ano, serão 80
mil. Mais do que os 12 mil que falecem a cada ano por câncer de próstata ou
mama, os 44 mil que morrem em razão de doenças hipertensivas ou os 54 mil que
são acometidos de diabetes. Trata-se de índice igual ao de mortes por infarto,
que também somam 80 mil por ano.
Sim,
há os que já foram infectados e dizem que não vão se vacinar porque já têm
anticorpos, como afirma o magnífico Jair Bolsonaro. Estes ignoram a
potencialidade da reinfecção ou o surgimento de cepas diferentes que podem lhes
acometer. Vejam o caso da gripe influenza, que já exige quatro vacinas
diferentes para ser obstruída. Na rede pública, as vacinas aplicadas são as
trivalentes, que imunizam contra até três variações da doença. Na rede privada
já estão sendo aplicadas as tetravalentes.
Claro
que os custos serão altos, mas ainda mais grave é o número assustador de mortes
que a doença continuará produzindo depois da vacinação em massa, por causa e
entre os negacionistas. E elas ocorrerão por todos os lados, mas serão maiores
nos grotões bolsonaristas. São os seguidores fiéis de Sua Excelência que mais
se rebelam contra a vacina. Seguem o líder cegamente, como ratos ao flautista
de Hamelin, mesmo que seja em direção ao hospital ou ao cemitério.
Rebanho
O
que vai acontecer com aqueles que se recusarem a ser vacinados? Certamente
perderão alguns direitos, como o de frequentar escolas, academias e clubes.
Devem também perder o acesso a bolsas e outros auxílios oficiais, o direito de
participar de concursos públicos e de votar. Podem ainda ser proibidos de
viajar de avião e ônibus. E também não serão imunizados. Serão apenas parte do
rebanho.
Eles
erram
Presidentes
erram. Sarney errou na economia, mas foi o presidente que avalizou a reabertura
democrática. Collor errou ao confiscar a poupança dos brasileiros e ao permitir
que seu contador PC Farias trocasse influência por dinheiro, muito dinheiro.
Mas é verdade também que abriu a economia brasileira para o mundo. Fernando
Henrique errou ao fazer aprovar o instituto da reeleição, mas estabilizou a
moeda nacional. Lula deixou seu governo e seu partido se corromperem, mas
distribuiu renda como nenhum dos seus antecessores. Dilma errou feio na
economia e ao tentar falsear seus resultados acabou afastada. Bolsonaro erra
como jamais se viu. Erra no atacado, desde o primeiro dia de seu mandato e em
todas as frentes. Como Dilma, e ao contrário de seus antecessores, não deixou
até aqui qualquer legado.
Falando
em Collor
O
governo de Jair Bolsonaro mergulhou de corpo e alma na política de negociação
de cargos por apoio político. Um dos membros da tropa de choque de Fernando
Collor no Congresso, o deputado Ricardo Fiuza, batizou este tipo de operação
com um trecho da Oração de São Francisco: “É dando que se recebe”. Uma prática
comum na política nacional ganhava um apelido. Fiuzão, que era um conhecido
“caneleiro”, morreu em 2005, mas sua criação sobreviveu. Hoje, o capitão dá
cargos para receber em troca votos para o deputado Arthur Lira (desvio de
dinheiro público, enriquecimento ilícito, rachadinhas, violência doméstica) na
sucessão da Câmara. E, para não perder a coerência, Bolsonaro mantém Roberto
Jefferson, o segundo líder da velha tropa de choque de Collor, como seu brucutu
de plantão.
Extrapolei
Foi
engraçado ver Bolsonaro tentando representar o papel de estadista, que se
desculpa com o país quando erra. Na cerimônia de divulgação do plano (?) de
vacinação, o capitão disse que se alguém extrapolou foi na busca de resultados.
Uma piada. A frase deveria ser lida assim: “Se algum de nós extrapolei ou até
exagerei, foi no afã de buscar solução”. O pior é que mesmo que tivesse sido
franco, o presidente não teria sido honesto. Ele exagerou e extrapolou por
outras razões, você sabe, não porque queria encontrar saídas.
E
há o Rio
No
Brasil, vices seguidamente ocupam o posto principal pelo impeachment, a
desincompatibilização ou a morte do titular. Em alguns casos tivemos sorte.
Itamar Franco, por exemplo, substituiu Fernando Collor e devolveu dignidade ao
cargo. Em São Paulo, Bruno Covas era vice de João Doria, assumiu a prefeitura e
fez uma boa gestão, a ponto de ser reeleito. Há outros exemplos no país. E há o
Rio. Por aqui, parece que não tem remédio. O governador em exercício Cláudio
Castro fica melhor quando não fala, ou quando não faz nada. Esta semana ele
quis fazer alguma coisa e falou. Foi uma calamidade. Num discurso ao lado do
zero das rachadinhas, Castro disse para quem quisesse ouvir: “Eu confio no
general Pazuello”. Pasmem, há alguém que confia no general. E acrescentou: “Não
é fazendo politicagem com a saúde que vamos sair dessa”. Embora seja o
presidente quem faz politicagem rasteira com o vírus, o recado de Castro era
para seu colega João Doria. Puxou tanto o saco do governo Bolsonaro que até
mesmo o zerinho que ouvia tudo calado não conseguiu esconder seu constrangimento.
Mais
mortes
Um
estudo feito pelo jornal The New York Times mostra que o crescimento do número
de mortes por Covid é maior em cidades universitárias depois do retorno das
aulas presenciais. A pesquisa do NYT foi feita em 203 cidades cuja população
estudantil é maior do que 10% do total. Também cresceu exponencialmente o
número de infectados nestas localidades, bem acima da média nacional. No Rio, as
aulas nas escolas públicas estaduais voltam em janeiro. Em São Paulo, as
escolas estaduais funcionam com até 35% da sua capacidade desde setembro. Doria
anunciou que começará a vacinar em janeiro. Aqui, vacinação só em fevereiro,
março, sei lá, já que Claudio Castro diz que vai seguir seu líder, o general
paradão.
Assédio
O assédio do deputado Fernando Cury à deputada Isa Penna é uma demonstração absurdamente explícita do desrespeito e do abuso. Como pôde o deputado imaginar que podia se esfregar assim numa mulher sem o seu consentimento e que não aconteceria nada? Ainda mais em se tratando de uma parlamentar do PSOL, partido conhecido por sua constante luta contra este tipo de abuso. O partido de Marielle Franco, convenhamos. E, depois, o local do assédio era o plenário da Assembleia Legislativa de SP, local monitorado por câmeras o tempo todo. Cury deve ser punido por importunação sexual, falta de decoro e burrice atroz.
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