Um
dos problemas com a democracia é que ela realiza as preferências do eleitorado
Juro
que tento pautar-me pelo humanismo e pela compaixão nas avaliações que faço da
epidemia de Covid-19 no Brasil, mas às vezes é difícil. O último
Datafolha foi uma ducha de água fria em meus pendores
filantrópicos.
Sim, Jair Bolsonaro é um dos grandes responsáveis pela situação de descalabro que vivemos, mas receio que a população brasileira não fique muito atrás. E não o afirmo apenas porque caiu a disposição do brasileiro em ser vacinado (ela agora é de 73%, contra 89% em agosto) e porque a maioria (52%) considera que o presidente não tem nenhuma culpa pelas mais de 180 mil mortes, resultado que já comentei no início da semana. Novos achados da mesma pesquisa contribuem para derrubar minha fé, senão na humanidade, ao menos no brasileiro.
A
crer na "vox populi", a primeira coisa que deve ser fechada para
evitar os contágios são as escolas (66%)... e a última, as igrejas (49%). Até
os bares (55%) vêm antes da educação. Com prioridades assim não é um espanto
que estejamos no ponto em que estamos, como a segunda nação com mais mortes no
planeta.
E
não são meus impulsos anticlericais que me levam à revolta. Pela própria lógica
dos religiosos, que creem num Deus benevolente, onisciente e onipresente, não
deveria fazer diferença se o fiel faz suas preces no templo ou em casa. Em
tese, o Cara ouve de qualquer lugar.
Outro
ponto que me deixa desconfortável é ter de aplaudir João Doria. O governador de
São Paulo, embora não seja muito menos conservador e autoritário que o
presidente, ao menos abraçou a causa da vacina e da abertura das escolas. Mais,
ainda que se valendo de um certo populismo, conseguiu fazer com que o Ministério
da Saúde se mexesse para acelerar a vacinação.
Um dos problemas com a democracia é que ela realiza as preferências do eleitorado. Isso significa que, se a maioria desejar bobagem, mais cedo ou mais tarde bobagens serão cometidas.
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