Caio Sartori e Emilly Benhke | O Estado de S. Paulo
RIO
E BRASÍLIA - Diante de 485 novos soldados da Polícia Militar do Rio e seus familiares, o
presidente Jair Bolsonaro atacou há pouco a
imprensa e estimulou os novos agentes a não acreditarem no que está na mídia. "Não esperemos da
imprensa a verdade. As mídias sociais, essas sim, trazem a verdade, e não a
fábrica de fake news que é a imprensa brasileira",
disse, em tom inflamado, para aplausos dos presentes. "Pensem nisso na
hora de agir."
Nessa linha, o mandatário também pediu para os policiais terem cuidado em operações. "Se preparem cada vez mais, simulem as operações que podem aparecer, porque em uma fração de segundo está em risco sua vida, do cidadão de bem ou de um canalha defendido pela imprensa brasileira", orientou. "Não se esqueça disso, essa imprensa jamais estará do lado da verdade, da honra e da lei. Sempre estará contra vocês, pensem dessa forma para poderem agir", emendou".
A
polícia do Rio matou 1.810 pessoas em 2019, segundo dados oficiais.
"Trabalho de vocês (policiais)
é um dos mais sublimes do Brasil. Vocês (policiais)
oferecem a vida pela vida de terceiros e pelo patrimônio", afirmou o
presidente.
Na última terça-feira, 15, Bolsonaro defendeu retomar o debate da ampliação do excludente de ilicitude para forças policiais em operação. Proposta neste sentido foi rejeitada pelo Congresso na época do debate do pacote anticrime. O chamado excludente de ilicitude é previsto na Constituição e elimina a punição, em casos específicos, para aquele que pratica algo que pode ser considerado ilícito.
Em
outro momento do discurso no Rio, Bolsonaro, em indireta aos demais Poderes,
afirmou que, apesar da harmonia entre as três esferas, os "três poderes
são independentes e harmônicos, mas maior poder é o povo brasileiro".
Nesta quinta-feira, 17, o Supremo Tribunal Federal (STF) determinou
que a vacinação no País pode ser obrigatória por
meio de medidas de Estados e municípios. Ele é contra.
Governador
O
presidente participou da formatura de soldados da PM do Rio, no bairro de Jardim Sulacap, zona oeste da
cidade. Estiveram com ele o governador em exercício, Cláudio Castro (PSC), e os
ministros Ricardo Salles, do Meio Ambiente,
e Braga Netto, de Casa Civil, além do
senador Flávio Bolsonaro (Republicanos-RJ),
seu filho "zero um", e deputados federais bolsonaristas. Todos
estavam sem máscara.
Castro,
que depende politicamente da família Bolsonaro, saudou o presidente logo no
início de seu discurso. "Hoje é um dia de orgulho para o nosso Estado.
Temos aqui hoje pela primeira vez um presidente da República no nosso curso de
formação", apontou. E também cortejou Braga Netto, que atuou como interventor na Segurança do
Rio em 2018. "O Rio de Janeiro jamais esquecerá do seu suor e de tudo o
que a intervenção fez por aqui", alegou.
De
surpresa, Castro convidou ainda o senador Flávio, seu principal interlocutor no
clã, para falar diante da tropa. O parlamentar chamou o mandatário interino de
"governador honrado que defende a tropa, se preocupa com o servidor
público e está completamente concentrado em seu Estado", em clara indireta
ao afastado Wilson Witzel.
"Sabemos
que a Polícia Militar durante tantos anos foi massacrada e estamos lutando
contar isso. Estamos lutando para que a sociedade veja... Todos os índices
menos um, que é a letalidade, baixaram sensivelmente. A maioria deles, mais de
50%. Mas o único que é divulgado é, infelizmente, o da letalidade por agente
público", disse o governador.
Bolsonaro
retribuiu os elogios de Castro, disse que o governador "honra seu
mandato" e retomou o discurso de que ele e as Forças Armadas devem
lealdade ao povo. "Jamais nossa democracia e liberdade serão ameaçadas por
quem quer que seja".
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