Jair Bolsonaro é o policial com o joelho no pescoço de Manaus enquanto a cidade grita
Jair
Bolsonaro é o policial com o joelho no pescoço de Manaus
enquanto a cidade grita “I can’t breathe”.
Durante
toda a pandemia, o
presidente da República oscilou entre a negligência criminosa e a
sabotagem sádica contra quem pelo menos tentasse combater a doença —como alguns
ministros e governadores tentaram.
Três semanas antes da tragédia de Manaus, Bolsonaro aumentou o imposto de importação dos cilindros de oxigênio —enquanto baixava as tarifas para as armas que pretende usar em seu golpe de Estado. Bolsonaro faz campanhas contra vacinas e contra o uso de máscaras. Bolsonaro nos colocou no fim da fila do mundo para a vacinação, não só por sua conhecida falta de disposição para o trabalho, mas também por psicopatia: torceu contra e gargalhou com cada notícia ruim sobre as vacinas compradas pelo governador João Doria. Até que chegou o dia em que viu que não tinha jeito e resolveu confiscá-las e mentir que quem as comprou foi ele.
No
caso específico de Manaus, deputados
bolsonaristas como Eduardo Bolsonaro (PSL-SP), Bia Kicis (PSL-DF),
Daniel Silveira (PSL-RJ) e Carla Zambelli (PSL-SP) comemoraram
a derrota da tentativa do
governador do Amazonas de estabelecer o isolamento social. As pessoas não
teriam agonizado sem ar se eles não tivessem sido vitoriosos. É gente ruim que
quer ver brasileiros mortos.
O deputado
Osmar Terra (MDB-RS), formado em medicina, alimentou o governo com
projeções falsas desde o começo da epidemia. Há poucos dias, dizia que as
reclamações sobre Manaus eram “alarmismo”. Terra vinha afirmando que já
havia “imunidade de rebanho” em Manaus, o que é evidentemente falso. Terra
entrou para a história da medicina brasileira como um Oswaldo Cruz ao
contrário, um médico que lutou para que os brasileiros não tivessem como se
defender das epidemias. Continua tentando voltar ao ministério escalando uma
pilha de cadáveres. Talvez consiga.
O
ministro da Saúde, Eduardo Pazzuelo, é tão incompetente que eu torço para que
seja o responsável por comprar a munição em caso de golpe de Estado. Mas não
caiam na conversa que tenta fazer dele o bode expiatório da crise.
Pazzuelo
assumiu o ministério depois que Bolsonaro demitiu dois ministros da saúde que
tentaram trabalhar, Mandetta e Teich. Quando Pazzuelo quis comprar
vacina, Bolsonaro
o desautorizou publicamente. Sim, Pazzuelo foi a Manaus pouco antes da
crise, recebeu
inúmeros avisos, não fez nada. Mas não fazer nada é claramente o que ele
entendeu que tem que fazer para continuar no cargo.
Por
que essa gente ainda tem mandato, por que ainda estão soltos? Ao que parece,
este rebanho, sim, tem imunidade à lei.
O
acordão de 2020, em que Bolsonaro adquiriu o direito de fazer virtualmente
qualquer coisa desde que matasse a Lava Jato, entregasse
cargos ao Centrão e não desse um golpe de Estado, revelou-se um dos
maiores desastres de nossa história recente. Em troca de uma estabilidade
extremamente frágil, que Bolsonaro volta a ameaçar sempre que quer, perdemos 200 mil
brasileiros e vamos deixando de ser um país para nos tornarmos uma
área de desastre que o resto do mundo quer isolar e esquecer.
Até
2018, o resto do mundo olhava para o Brasil e se perguntava, “Como um país
desses não se desenvolve?” Depois de dois anos de Bolsonaro, concluíram que
“Ah, por isso” e foram fazer outra coisa.
*Celso Rocha de Barros, Servidor federal, é doutor em sociologia pela Universidade de Oxford (Inglaterra).
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