É
preciso lembrar que o colapso em Manaus não está assim tão longe de outras
regiões do Brasil. No Rio, chegamos ao limite
Escrevi
um artigo sobre vários temas, sobretudo vacina, e sobre as pessoas morrendo por
falta de oxigênio em Manaus.
Aos
poucos, as pessoas morrendo por falta de oxigênio em Manaus foram deslocando os
outros tópicos para o canto da página e ocuparam todo o espaço. Impossível
falar de outra coisa quando há pessoas morrendo por falta de oxigênio nos
hospitais.
Desde
a semana passada, estava de olho em Manaus. Minha intuição indicava que a
descoberta pelos japoneses de uma variante do coronavírus em turistas vindos da
Amazônia merecia atenção.
Essas
mutações do vírus, de um modo geral, se dão na proteína “spike” e facilitam a
propagação. Os ingleses, que vivem um problema semelhante, perceberam e logo
proibiram voos do Brasil.
Mas,
ao mesmo tempo que perseguia as notícias sobre as mutações do vírus, acompanhava
a crise nos hospitais de Manaus. Primeiro foi o alerta de que faltaria
oxigênio. Depois vi uma entrevista do presidente do Sindicato dos Médicos do
Amazonas, Mario Vianna, descrevendo o caos e dizendo que os doentes mais ricos
estavam fugindo para o aeroporto em busca de salvação.
Cheguei a pensar na hipótese de que iriam isolar Manaus. Roraima fez uma barreira na Manaus-Boa Vista, e o Pará decidiu bloquear os viajantes pelos rios.
Pazuello
estava em Manaus. Sua tarefa era encontrar uma saída para a crise emergencial.
Vi imagens de cilindros de oxigênio sendo transportados pela Força Aérea. Mas
Pazuello não conseguiu dimensionar a crise ou não soube reunir os recursos para
evitar a tragédia. É um incapaz.
Mais
uma vez, o governo trata a morte com indiferença. E não é uma atitude isolada.
A Justiça decidiu cancelar o Enem em Manaus, e Bolsonaro recorreu dessa decisão
sensata.
Na
raiz dessa crise, está a tentativa do governo local de colocar restrições ao
comércio num momento agudo da pandemia. Houve protesto de várias entidades,
manifestações de rua, bandeiras, Hino Nacional.
Os
bolsonaristas aplaudiram, assim como aplaudiram a revolta em Búzios. Segundo
eles, o povo estava em luta pela liberdade contra decisões autoritárias. Esse
discurso de Bolsonaro apela para a liberdade individual, num momento em que é
necessária a cooperação.
O
êxito de um discurso desse tipo se alimenta também do cansaço com as medidas de
isolamento social e de algo, no meu entender mais estrutural. Jorge Luis
Borges, falando dos argentinos, disse que eles são indivíduos e não cidadãos.
Creio que algo parecido acontece aqui.
Isso
torna mais fácil empurrar as pessoas para a morte, o que Bolsonaro e toda essa
corrente de opinião têm feito com competência, negando não apenas a orientação
científica, mas também a necessária disciplina social num tempo tão difícil.
Os
americanos decretaram o impeachment de Trump porque ele insuflou uma ação
violenta contra a democracia. Bolsonaro se recusa a aceitar a gravidade da
pandemia e empurra as pessoas para a morte.
Estamos
no limiar de uma campanha de vacinação. Ou, pelo menos, próximos de um ato de
propaganda iniciando essa campanha. Mas as pessoas morrendo por falta de
oxigênio em Manaus não nos deixam outro caminho, exceto lembrar: a política da
morte está em curso, a cada minuto que nos atrasamos em nossa união para
contê-la corremos o risco de estar matando também.
É
preciso lembrar que o colapso em Manaus não está assim tão longe de outras
regiões do Brasil. Já temos um índice de mais de mil mortos por dia. O crescimento
dos casos em São Paulo é grande, e o próprio Hospital Albert Einstein cancelou
a admissão das UTIs aéreas, aviões que trazem doentes de outros lugares do
país. No Rio, chegamos ao limite.
A
campanha de vacinação revela um planejamento precário e vacinas com um baixo
nível de eficácia. Isso significa que teremos de vacinar muita gente para
reduzir o número de casos e estancar o crescimento das mortes.
É
muito difícil superar uma etapa dessa grandeza com um governo negacionista,
incapaz e sem um traço de empatia com o sofrimento do povo brasileiro. Ele nos
rouba oxigênio não só como indivíduos, mas como sociedade.
Para voltar a respirar, será preciso se desfazer do governo.
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