Se
a eleição de Arthur Lira se confirmar, Bolsonaro terá três vitórias
Hoje
acontece a eleição para
presidente da Câmara dos Deputados. De um lado, concorre Baleia
Rossi (MDB-SP), representando uma frente ampla com forças de esquerda e de
direita. Do outro lado, Arthur Lira (PP-AL), representando o direito de Jair
Bolsonaro pisar no tubo de oxigênio de 220 mil
brasileiros que morreram asfixiados durante a pandemia. Lira é
favorito.
Se
a vitória de Lira se confirmar, Bolsonaro terá
três vitórias.
A
vitória menor será a eleição de Arthur Lira. Com um aliado seu na presidência
da Câmara, Bolsonaro
terá mais chances de colocar em votação suas pautas autoritárias. Se
entregar cargos conversíveis em dinheiro for suficiente para eleger Lira,
talvez também seja suficiente para aprová-las.
Com
todas as suas imperfeições, Rodrigo Maia
foi um limite para o autoritarismo de Bolsonaro. Lira parece ter
menos disposição para sê-lo.
Até
outro dia, diziam que o centrão de
Lira havia moderado Bolsonaro. Da próxima vez, sugiro que a
democracia brasileira não se defenda com um exército mercenário. O leilão do
mercenário está sempre em aberto.
Mas,
até por isso, mesmo, a vitória de Lira pode não ser uma vitória tão grande para
Bolsonaro.
Se a maré virar contra o presidente, como parece estar virando, essa turma toda vai embora em cinco minutos, carregando até o material de escritório da Esplanada. E a munição usada para eleger Lira já está gasta; não haverá mais tantos cargos nem tantas verbas para distribuir na próxima disputa.
Mesmo
assim, faz diferença. Em uma disputa apertada pelo impeachment,
um presidente da Câmara que vacile por, digamos, dois meses a mais para ouvir a
insatisfação popular pode ser decisivo. A mobilização pode arrefecer nesse
período, a próxima eleição pode começar a ficar perto demais.
É
bom lembrar que o presidente mais impopular de todos os tempos, Michel Temer,
escapou do impeachment de manobra em manobra. Todas foram do tipo que Bolsonaro
está fazendo agora.
Mas
a vitória de Lira daria a Bolsonaro outras duas vitórias, talvez mais
importantes.
A
primeira é um novo salto na desmoralização do Congresso. Se, depois dos 220 mil
mortos e da tentativa de autogolpe de 2020, o Congresso
se vender para quem até outro dia queria fechá-lo, haverá menos
gente para defendê-lo na próxima ameaça autoritária.
Tem
gente no centrão
que diz que parou o golpismo de Bolsonaro em 2020 sozinho, mas
é mentira: havia uma resistência ao autoritarismo na opinião pública e o
centrão entrou como mediador.
Se
Lira vencer e fizer o que o bolsonarismo quiser, o centrão não será mais
mediador de nada. Terá lado na disputa e mãos manchadas de sangue.
Além
disso, se Lira vencer, a frente
ampla terá fracassado de novo, depois da vez em que ela mais
importava —o segundo turno de 2018— e daquela movimentação tímida de 2020.
Nesse
caso, da próxima vez que a direita disser “nós votamos Bolsonaro porque do
outro lado era o PT” bastará responder “meu amigo, vocês votaram no Bolsonaro
quando do outro lado era o Baleia Rossi”.
Enfim, é hora do Congresso decidir o quanto os democratas brasileiros podem contar com ele. Gostaria de ter argumentos que convencessem os eleitores de Arthur Lira a mudar de ideia. Mas acho que acabaria gastando-os para comprar o Messi para o Flamengo.
Nenhum comentário:
Postar um comentário