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Folha de S. Paulo
Bolsonaro
tenta sujeitar o Congresso para viabilizar um projeto autocrático
O
presidente da República não tem disfarçado o indecoroso empenho em
favor dos seus candidatos a presidente da Câmara (Arthur Lira)
e do Senado (Rodrigo Pacheco), chegando até a invocar o nome de Deus para
ajudá-lo na flagrante indecência de eleger, à custa de liberação de verbas
bilionárias, quem esteja disposto a se subordinar. Nas eleições desta
segunda-feira ver-se-á até onde o Congresso está disposto a ir na cumplicidade
com um projeto autoritário.
Na Câmara, apesar de todas as negociatas que sustentam o favoritismo do
candidato de Bolsonaro, que é réu por corrupção, há chance de a disputa ir para
o segundo turno. No Senado, o quadro é mais difícil; desolador. Lá, de forma
oportunista e desavergonhada, quase toda a esquerda —PT, PDT, Rede— uniu-se a
Bolsonaro em favor do candidato chapa-branca, e o MDB, que havia lançado a
candidatura de Simone Tebet, acovardou-se
e resolveu rifá-la.
Bolsonaro
tenta sujeitar o Congresso não apenas para barrar
um processo de impeachment, mas também para viabilizar um projeto
autocrático, aprofundando a erosão democrática já iniciada com as
interferências indevidas na PF, na Receita, no Coaf...; e ainda a utilização
para fins privados de órgãos como a Abin.
Na Procuradoria Geral da República, ele já colocou um cavalo de Troia. O atual
PGR, lembremos, vem combatendo quem combate a corrupção, tendo como prioridade
a destruição da força-tarefa da Lava Jato. No STF, Bolsonaro conseguiu emplacar
alguém de notório não saber jurídico —plagiário de dissertação e
falsificador de títulos— mas com a virtude da gratidão e o dom de adivinhar as
intenções de quem o indicou.
As candidaturas governistas no Congresso são parte da estratégia de cooptação e
aparelhamento das instituições que avança sob o olhar reticente dos que advogam
a tese de que um novo impeachment debilitaria a democracia. Ao contrário, o
impeachment é precisamente o instrumento democrático para frear o uso leviano do
poder.
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