Para
que sirva de exemplo
Não
basta que logo mais à tarde a Câmara confirme a decisão unânime do Supremo
Tribunal Federal de mandar prender o deputado Daniel Silveira (PSL-RJ) que
atentou contra o Estado de Direito em vídeo que ele mesmo gravou e postou nas
redes sociais.
Para
que provas a mais do seu crime? O vídeo é prova cabal, indesmentível de que ele
é um criminoso confesso. Nunca antes na história democrática deste país um
parlamentar pregou tão acintosamente o desrespeito à Constituição e aos seus
zeladores.
Nem
basta que na próxima semana o Conselho de Ética da Câmara, inativo há tantos
meses, conclua que Silveira feriu o decoro parlamentar e deve ter seu mandato
cassado. É preciso que o plenário da Câmara casse o mandato e que a Justiça o
condene.
O
tratamento dado a Silveira deve servir de exemplo aos que conspiram para
cancelar mais uma vez a democracia, sejam eles vivandeiras de quartéis ou
militares. Um traço no chão para além do qual ninguém se arrisque a ir
imaginando que ficará impune.
Foi o bolsonarismo que pariu um feto mal formado como é Silveira. Com o agravante, no seu caso, de que ele acabou se elegendo deputado federal apesar da folha corrida repleta de antecedentes criminais. Não serviu para vestir a farda da polícia.
Por
que serviria para ganhar um assento no Congresso? Atos de violência física
pontuaram toda a sua trajetória até aqui. Ousou dar um salto mortal, sem rede,
ao enveredar pelo caminho estranho para ele da violência verbal. Está aí um
corpo estendido no chão.
Faltaram
a Silveira a cultura, a sutileza, o domínio das palavras e, principalmente, a
farda que permitiram ao general Villas Bôas, à época comandante do Exército,
interferir com sucesso no resultado de um julgamento do Supremo. Foi em abril
de 2018.
Tanto
o deputado quanto o general afrontaram a Constituição. A diferença é que um
tinha tropas bem armadas para atender ao seu chamado – o outro tinha nada. Por
ignorante, acreditou que o direito à livre manifestação o liberava para dizer o
que quisesse.
De
nada adiantou a Jair Bolsonaro invocar o direito à livre manifestação e a
imunidade parlamentar para se livrar de ações no Supremo. Ali, ele é duas vezes
réu por incitamento ao estupro. Os processos voltarão a andar depois que deixar
a presidência.
O gato escaldado tem medo de água fria. Bolsonaro já quis confusão com o Supremo, não quer mais. Por ser réu e porque seus filhos investigados poderão ser promovidos à igual condição. Daí o seu silêncio exemplar e barulhento quanto à sorte de Silveira.
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