Bolsonarista
Daniel Silveira empurra os três poderes para um acordão e enterra a ‘nova
política’
O
presidente Jair
Bolsonaro e o Exército fecharam
a boca, os três poderes se articularam e prevaleceu o bom senso para evitar uma
crise institucional e superar o episódio “Daniel, como é mesmo o nome dele?”. O
Supremo cumpriu sua função, o Congresso reagiu com maturidade, o Planalto não
atrapalhou e o resultado é que o deputado bolsonarista Daniel
Silveira (PSL-RJ) passa uns dias em cana e está isolado na
Câmara.
O
ministro Alexandre de
Moraes decretou a prisão em flagrante de Silveira, que faz
apologia do AI-5 e
agride violentamente os ministros do Supremo; o plenário da Corte ratificou a
prisão por unanimidade e em tempo recorde; o presidente da Câmara, Arthur Lira,
ouviu Planalto, Senado e líderes partidários e articulou o acordão com o
próprio Supremo. Duas coisas podem atrapalhar tudo: as ligações do deputado com
a milícia e os dois
celulares encontrados com ele.
Pelo acordo, a Câmara mantém a prisão, Moraes dá um tempo e depois usa a denúncia apresentada pela Procuradoria-Geral da República (PGR) para relaxar a prisão e trocá-la por tornozeleira eletrônica. Resta saber o que de fato acontecerá com o bolsonarista Silveira, que é uma ameaça à democracia e à sociedade. Ele será investigado pelo Supremo e pelo Conselho de Ética da Câmara. Pode ser suspenso, cassado ou... nada.
Por
isso o STF não aceitou a primeira proposta do Congresso: a Câmara derrubaria a
prisão, mas com o compromisso de abrir processo contra Silveira no Conselho de
Ética. Como confiar, se o conselho lava as mãos até para a deputada e pastora
Flordelis, condenada pelo assassinato do marido?
Enquanto
os poderes têm de perder tempo e energia com gente assim, vale refletir em que
contexto Daniel Silveira foi eleito deputado federal, depois de expelido da
Polícia Militar do Rio por 26 dias de prisão, 54 de detenção, 14 repreensões e
duas advertências. Com esse currículo, ele só pôde ser eleito na onda Jair
Bolsonaro, ele próprio um militar que saiu cedo do Exército por
insubordinação.
Essa
onda da “nova política” tirou do Congresso (e de legislativos e governos
estaduais) políticos experientes e de bons serviços prestados em comissões,
lideranças e relatorias de temas essenciais. E pôs no lugar policiais,
bombeiros, militares, procuradores – entre eles, toda uma gente que sempre
passou ao largo da política. Pior: com horror à política e à negociação, diálogo,
contraditório. Para não dizer democracia e instituições. Ao destruir a placa
para a vereadora assassinada Marielle
Franco, Daniel Silveira atacou o que ela representava: a política
(entrou nela para destruí-la por dentro), mulheres, negros, gays, inclusão
social, justiça e humanidade.
Agora,
ele está preso e foi abandonado, mas não fala sozinho. O deputado Eduardo
Bolsonaro já defendeu a volta do AI-5, o mais feroz instrumento
da ditadura militar, e que “basta um cabo e um soldado para fechar o STF”. E o
presidente da República, além de ouvir em silêncio o então ministro da Educação
propor a prisão dos membros do Supremo, atiçou e participou de atos contra as
instituições.
A
“nova política”, porém, envelheceu rapidamente, com Wilson Witzel afastado
do governo Rio por desvios, governadores do PSL e do PSC em apuros, a
deputada Bia Kicis (PSL-DF)
rejeitada por multidões para a Comissão de Constituição e Justiça (CCJ), um
bando deles respondendo no Supremo por fake news e movimentos golpistas.
O próprio Bolsonaro está saindo de fininho, abraçado à “velha política” e ao Centrão e empenhado na aproximação com o Supremo. Os filhos que votem como bem entenderem sobre a prisão de Silveira, um bolsonarista raiz, porque papai Jair está mais preocupado em se dar bem no Congresso e no Supremo. Para os Silveiras e o resto, migalhas. Ou armas e munições à vontade.
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