Errando
e acertando, é jornalismo o que a Folha procura fazer
A Folha faz
nesta sexta (19) 100 anos de
existência. Eu, dentro de um par de meses, farei 33 anos de Folha.
Foi meu primeiro e único emprego, ao qual cheguei por acidente.
É
verdade que desde pequeno eu lia o jornal. Meu pai assinava a Folha e
o Estado, e foi sobre o diário da alameda Barão de Limeira que minha atenção
naturalmente recaiu. A Folha era visivelmente menos sisuda que o
Estado na segunda metade dos anos 70. Nunca, porém, imaginei que um dia
trabalharia no jornal.
A
guinada veio em 1988. Recém-formado, em busca de algo para fazer antes de me
dedicar integralmente ao que seria uma tese sobre a verdade em Platão, respondi
a um anúncio da Folha em que ela recrutava tradutores. Não era bem assim. A
vaga, na realidade, era para uma posição de redator na editoria de Exterior.
Fiz a prova, a entrevista, fui chamado, aceitei e estou no jornal até hoje.
Jornalismo vicia. A tese nunca foi escrita.
Esses 33 anos me ensinaram duas lições ontológicas. A primeira é sobre o papel do acaso, muito maior do que estamos dispostos a admitir. Uma edição de jornal nada mais é do que o catálogo dos principais acontecimentos fortuitos do dia anterior, do sorteio da Mega-Sena aos terremotos e acidentes. Assim como o acaso foi decisivo para a minha carreira, o é para tudo.
A
outra é sobre a verdade. Cada um tem a sua. Platão estava errado. Mas, mesmo
admitindo que objetividade e imparcialidade sejam uma quimera, não precisamos
necessariamente concluir que o jornalismo é a realização diária de uma
impossibilidade teórica.
Entre
o dogmatismo com tons religiosos e o cinismo niilista, sobra bastante espaço
para relatos que, sem a pretensão de verdade acabada, procuram honestamente
estar tão perto dos fatos quanto possível.
Errando e acertando, é o que chamamos de jornalismo, e é o que a Folha procura fazer. Ao menos foi isso o que testemunhei ao longo de 1/3 dos 100 anos desta Folha.
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