Na
denúncia apresentada ao Supremo, a Procuradoria-Geral da República descreve
Daniel Silveira como “um ex-soldado da Polícia Militar do Rio, instituição na
qual se notabilizou pelo mau comportamento”. O deputado fez da indisciplina um
trampolim para trocar o quartel pelo palanque. Não é sua única semelhança com
Jair Bolsonaro.
A
exemplo do capitão, o ex-soldado usa a misoginia para se promover. Bolsonaro
atraiu holofotes quando chamou uma colega de “vagabunda” e disse que ela “não
merecia” ser estuprada. Silveira se projetou ao vandalizar uma homenagem a
Marielle Franco, vereadora executada pela milícia.
Os
dois descobriram que a truculência pode render votos. O mau militar enfileirou
sete mandatos até chegar ao Planalto. O mau policial foi premiado com uma
cadeira na Câmara.
O
caso do deputado marombado impõe um teste à democracia brasileira. Desde que
subiu a rampa com Bolsonaro, a extrema direita mantém as instituições sob
ataque permanente. Agora surgiu uma oportunidade de frear a escalada
autoritária.
Na Quarta-feira de Cinzas, o Supremo esqueceu as divisões internas e manteve a prisão de Silveira por 11 a 0. Hoje será a vez de a Câmara decidir o futuro do extremista.
O
bolsonarismo não disfarça. Seu projeto envolve o aliciamento das polícias, a
cooptação do Legislativo e a submissão do Judiciário. O deputado Eduardo Bolsonaro
já havia sugerido fechar o Supremo com “um soldado e um cabo”. Silveira propôs
uma solução mais violenta: espancar, cassar e prender os ministros da Corte.
Os
golpistas tentam usar as armas da democracia para matá-la. O ex-PM evoca a
imunidade parlamentar para defender a ditadura. Exalta o AI-5, mas quer
liberdade de expressão para conspirar. Por ironia, ele foi enquadrado na Lei de
Segurança Nacional, um entulho autoritário do regime dos generais.
A Câmara tem sido conivente com a pregação fascista desde 1999, quando um deputado exaltou a ditadura e defendeu o fuzilamento do presidente Fernando Henrique Cardoso. Na época, os parlamentares optaram por deixar o extremista falando sozinho. A experiência mostra que a omissão foi um erro grave. Agora o Congresso pode começar a repará-lo.
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