Quantas
mulheres negras como Carolina de Jesus têm seu talento negligenciado?
A
busca por igualdade, este princípio Constitucional tão importante quanto
desrespeitado no Brasil, não pode ser vista como algo homogêneo entre as
mulheres. Há uma espécie de desigualdade cumulativa que assola o universo
das mulheres
negras ao agregar o componente da “cor” a todos os indicadores
sociais, econômicos e culturais.
Partindo
da ideia de que pensar em igualdade implica colocar no centro do debate quem
mais necessita, parece inevitável lembrar da mulher negra considerando que essa
combinação de gênero e raça está presente em todos os indicadores sociais
negativos. Mulheres negras ganham menos e são a maioria entre as vítimas de
feminicídio, por exemplo.
Em fevereiro, uma das primeiras autoras negras publicadas no Brasil conquistou, post mortem, um feito a ser comemorado. Por aclamação e à unanimidade, a escritora, compositora e poetisa Carolina Maria de Jesus, da extinta favela do Canindé, em SP, recebeu do Conselho Universitário da UFRJ o título de Doutora Honoris Causa.
A
homenagem acadêmica serve de reparação a quem teve a obra publicada em mais de
40 países, mas morreu na miséria e sem reconhecimento nacional. Pela cabeça de
quem não leu Carolina talvez jamais tenha passado a ideia de que a expressão
“amarelo de fome” seja literal. Porque, segundo a autora, a fome tem cor. E ela
é amarela.
Quantas
serão as Carolinas lutando pela sobrevivência em nossas ruas neste momento de
pandemia e de desemprego recorde? Para além da crise, é de se pensar quantas
mulheres negras tiveram ou têm seu talento negligenciado ou desprezado no país.
Que a honraria póstuma a Carolina Maria de Jesus sirva para promover essa reflexão e para impulsionar a aplicação da lei 10.639, fazendo com que sua obra passe a integrar os currículos escolares. Quem sabe assim o Brasil comece a conhecer um pouco mais sobre a sua própria realidade. Talvez isso contribua para a promoção da igualdade neste país tão desigual.
Nenhum comentário:
Postar um comentário