Desobediência
bem comportada
Diretamente
ou por meio de emissários, o general Eduardo Pazuello, ministro da Saúde, dá
sinais de que precisa de ajuda para combater a Covid e tentar driblar a
determinação do presidente Jair Bolsonaro de deixar o vírus livre para que
morram e adoeçam os mais vulneráveis à sua ação, desde que a economia não
afunde.
Pazuello
está cansado de remar contra a correnteza de decisões estúpidas tomadas por Bolsonaro.
Sua formação militar o impede de se rebelar e de pedir as contas. De fato,
acredita no que ouviu a vida inteira dos seus superiores nos quartéis – missão
dada é missão cumprida; manda quem pode, obedece quem tem juízo.
Outras
razões empurram o general na direção de uma desobediência, digamos assim, bem
comportada. A primeira: falhou a maioria das providências que ele próprio
imaginou que seriam capazes de funcionar contra o vírus. A segunda: ele teme
ser processado por muito do que fez ou deixou de fazer.
No
pico da pandemia no ano passado, o número de casos de infecção superou a marca
de 46 mil por dia, em julho. Ontem, 60 mil – 30% maior. Projeções de cientistas
indicam que até a Semana Santa o número de casos poderá chegar a 100 mil por
dia. No Rio Grande do Sul, nas últimas 24 horas, a alta foi de 50%.
No
mesmo dia em que isso aconteceu, a comitiva do governo que viajou a Israel
atrás de um spray nasal ainda não bem testado contra o vírus desembarcou por lá
usando máscaras, depois de ter embarcado aqui sem elas. As imagens do embarque
e do desembarque entrarão para a história da pandemia.
O apelo quase silencioso de Pazuello por ajuda levou 22 dos 27 governadores de Estado a se entenderem para implantar medidas de âmbito nacional mesmo que à revelia do governo Bolsonaro. Entre as medidas, as que restringem ainda mais a circulação de pessoas e a compra coletiva de vacinas que hoje são poucas.
Não
dá mais para acreditar que elas serão providenciadas pelo governo federal, seja
por sua incompetência comprovada, seja pelos entraves criados para tal por
Bolsonaro. No que deverá ser chamado de pacto nacional pela vida, haverá lugar
para os presidentes da Câmara e do Senado, além de líderes de partidos.
Os
empresários serão estimulados a comprar vacinas desde que uma parte delas seja
doada ao governo, podendo a outra parte ser aplicada em seus funcionários. Para
isso será necessária a autorização do Congresso. O ministro Paulo Guedes, da
Economia, é favorável à iniciativa e tem conversado a respeito.
Avança
o plano para isolar Bolsonaro, como se isso fosse inteiramente possível. Ele
sabe que sua popularidade está em queda e que seus seguidores nas redes sociais
começam a reclamar do agravamento da pandemia. Bolsonaro afronta o que é mais
caro aos humanos – o direito à vida. E pagará um dia por isso.
Enquanto isso, aproxima-se o apocalipse sanitário
Há
pouco mais de uma semana, o presidente Jair Bolsonaro anunciou que mandaria uma
comitiva a Israel atrás de um spray nasal que estaria operando milagres no
tratamento da Covid.
Como
a Justiça cobrou-lhe melhores explicações a respeito, ele passou a dizer que a
comitiva discutiria acordos na área de ciência e tecnologia e trocaria informações
sobre vacinas.
O
deputado Eduardo Bolsonaro (PSL-SP), um dos integrantes da comitiva, a primeira
coisa que fez ao chegar por lá foi confirmar o interesse do governo do seu pai
pelo tal do spray.
A
comitiva é chefiada por Ernesto Araújo, ministro das Relações Exteriores, que
ontem foi advertido por um funcionário do governo israelense para que usasse
máscara em prédios públicos.
Segundo
o Zero Três, “o novo medicamento, chamado EXO-CD24, tem tido uma eficiência
perto de 100% nos primeiros testes com relação ao combate à Covid-19”. Foi o
que ele leu num folheto.
Até
agora, a droga foi testada apenas em 30 voluntários em estado grave internados
no Hospital Ichilov. O inventor da droga diz que 29 deles se recuperaram em
três a cinco dias.
A
direção do hospital está interessada em testar a droga no Brasil cujo povo é
famoso “por ser miscigenado, com material genético bem diversificado”,
justificou Eduardo.
Não há tratamento preventivo contra o vírus que tenha se revelado eficaz em parte alguma do planeta, assevera a Organização Mundial da Saúde.
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