No
início da pandemia, Ricardo Salles expôs um plano para desmontar o sistema de
proteção ao meio ambiente. Segundo ele, era preciso aproveitar as atenções
voltadas para o coronavírus e “ir passando a boiada”. O ministro pode ser
acusado de muita coisa, menos de não fazer o que prometeu.
Desde
a célebre reunião de abril de 2020, Salles revogou normas de licenciamento,
perseguiu servidores e se aliou abertamente aos devastadores da Amazônia. O
resultado foi o maior desmatamento da floresta em dez anos, de acordo com os
dados do Imazon.
Encorajado pelo chefe, o ministro continuou a tabelar com os algozes da floresta. Em março, ele se solidarizou com os alvos da maior apreensão de madeira da história do Brasil. A atitude revoltou os investigadores que comandaram a operação. “Na Polícia Federal não vai passar boiada”, reagiu o superintendente da PF no Amazonas, Alexandre Saraiva.
O
delegado não se limitou a protestar. Apresentou ao Supremo Tribunal Federal uma
notícia-crime contra Salles e o senador Telmário Mota. O documento acusa a
dupla de advocacia administrativa, participação em organização criminosa e
infração contra a lei de crimes ambientais.
Para
Saraiva, o chefe do Ministério do Meio Ambiente atacou a PF “de forma parcial e
tendenciosa, comportando-se como verdadeiro advogado da causa madeireira”. A
descrição também serve para ilustrar as relações do ministro com grileiros de
terra e garimpeiros ilegais.
A
ousadia de Salles mostra que ele não age sozinho: cumpre tarefas combinadas com
Jair Bolsonaro. Ontem o presidente deu mais um sinal de apoio à devastação. Em
vez de demitir o ministro, mandou afastar o superintendente da PF que o acusou.
Saraiva
fez o que o procurador Augusto Aras se recusa a fazer: denunciou o desmonte
ambiental e tentou laçar a boiada de Salles. O Congresso também tem sido
cúmplice do ataque à Amazônia. Agora, o Supremo tem uma chance de frear as
motosserras.
A Corte ainda ganhou novos elementos para o inquérito que apura a interferência do presidente na PF. A investigação completa um ano no próximo dia 28. Ao derrubar o superintendente, Bolsonaro escancarou, mais uma vez, o plano de capturar a polícia para defender seu grupo político.
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