Com a
CPI da Covid em funcionamento no Senado, o custo político dos desatinos de
Bolsonaro na pandemia e da incompetência dos militares na Saúde será altíssimo
O
Supremo Tribunal Federal (STF) confirmou, ontem, a anulação de todas as
condenações do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), por 8 a 3, com
base no princípio do “juiz natural”, pedra basilar do chamado devido processo
legal, invocado pela defesa do petista desde quando o processo começou a andar
na 13a Vara Federal de Curitiba, sob a batuta do então juiz Sergio Moro. Quando
a revisão do caso do ex-presidente da República começou a ser ventilada nos
bastidores do Supremo, o presidente Jair Bolsonaro imaginava que Lula como
adversário seria meia reeleição garantida, mas a vida está mostrando, com a
pandemia da covid-19, que a roda da Fortuna girou em favor do petista.
Como já era de se esperar, a reação de Bolsonaro e seus aliados será na direção de contestar a decisão do Supremo e desacreditar os integrantes da Corte, além de intensificar a narrativa de que houve fraude nas eleições passadas e de que o voto eletrônico não é seguro. Os propósitos golpistas dessa narrativa são conhecidos, porém não têm encontrado eco nos meios políticos, nem mesmo entre os aliados do Centrão, e também nas Forças Armadas, apesar das insatisfações com a decisão. A ideia de que a polarização com Lula seria a chave da vitórianas eleições de 2022 está furada.
A
decisão do Supremo anulou as condenações de Lula por um aspecto formal, o foro
de seu julgamento deveria ser o Distrito Federal, e não Curitiba. Isso não
significa que Lula tenha sido inocentado, porque o processo terá que ser
reiniciado (há controvérsias sobre a anulação de provas). Entretanto a
narrativa de que Lula foi injustiçado por Sergio Moro é cada vez mais robusta,
pela revelação de suas conversas com os procuradores da força-tarefa da
Lava-Jato e, também, por causa da decisão da Segunda Turma que aprovou a
suspeição do ex-juiz na condução do processo, por 3 a 2. Esse é outro assunto
que terá de ser examinado pelo plenário do Supremo, podendo ter sérias
consequências para o ex-magistrado, um pré-candidato à Presidência ainda
encabulado.
Cada
dia que passa, as consequências da má gestão do ex- ministro da Saúde Eduardo
Pazuello mostram-se mais graves, com o agravante de que o novo ministro,
Marcelo Queiroga, embora tenha flexibilizado a narrativa governista, está
capotando na área administrativa da pasta. Hoje, é o principal responsável pelo
colapso do fornecimento de insumos para tratamento dos casos graves da doença,
principalmente os kits de intubação. Como o Ministério da Saúde requisitou toda
a produção nacional e não consegue atender à demanda, hospitais de vários
estados estão entrando em colapso. Pacientes estão sendo amarrados nas UTIs
para não retirarem os tubos de respiração ou deixando de ser intubados, por
falta de analgésicos adequados e outros recursos, o que acaba aumentando o
número de óbitos.
Com a CPI da Covid em funcionamento no Senado, o custo político dos desatinos de Bolsonaro na pandemia e da incompetência dos militares na Saúde será altíssimo e se prolongará para além da pandemia, por causa do grande número de mortos. Isso significa que Bolsonaro está derrotado e Lula com o caneco na mão? Não, ninguém ganha eleições de véspera. Lula já foi favorito antes e perdeu a eleição, em 1994, para Fernando Henrique Cardoso (PSDB).
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