CPI, STF e conspirações imaginárias levam presidente a esboçar campanha de reação
Jair
Bolsonaro insinua que começou uma campanha decisiva pelo
seu impeachment. Que os governadores conspiram para criar até uma inflação,
a fim de derrubá-lo. Que é preciso extirpar “um câncer” para o Brasil voltar à
normalidade. Que está chegando o momento de um “ponto de encontro”, dado o
“jeito que as coisas estão acontecendo”. Critica Supremo e governadores. Assim,
“dentro das quatro linhas da Constituição”, o governo vai “restabelecer a ordem
no Brasil”.
Foi o que Bolsonaro pareceu dizer no seu vídeo semanal (“live”) desta quinta-feira (15). “Pareceu”, porque Bolsonaro tem recorrido mais a idiotias sibilinas, para nem mencionar todas as suas inimizades com o pensamento, seu português menos do que rudimentar e sua perturbação psicológica. De qualquer modo, pareceu se tratar do início de uma campanha de reação a CPI, a pressões do Congresso, à crise do Orçamento e a menções a impeachment, que não vai acontecer, mas tem saído da boca do pessoal do centrão, como ameaça.
No
Planalto, um ministro diz que Bolsonaro “não está ameaçando golpe coisa
nenhuma”. No entanto, o presidente vai começar uma campanha para “restabelecer
a verdade e a lei”, em “viagens e manifestações pelo Brasil e também por meio
de providências legais cabíveis” a fim de mostrar à população a “armadilha” em
que colocaram o país, a economia e o presidente.
Nas
redes sociais, as milícias bolsonaristas soltavam a campanha
#EuAutorizoPresidente”, uma resposta ao recado reiterado nos últimos dias por
Bolsonaro e também no vídeo semanal: “A população é quem dita os rumos da nossa
nação”.
No
vídeo, Bolsonaro menciona o artigo 5º da Constituição, que enumera quase 80 direitos
individuais. Dado o contexto e como Bolsonaro não tem apreço por quase nenhum
dos incisos do artigo 5º, pareceu se referir vagamente ao direito de locomoção
e a “ninguém será obrigado a fazer ou deixar de fazer alguma coisa senão em
virtude de lei”.
“Infelizmente, por decisão do STF, alguns
governadores e pouquíssimos prefeitos têm, na canetada, ignorado, jogado no
lixo o artigo 5º da Constituição. A população é quem dita os rumos da nossa nação”,
disse na “live”.
Bolsonaro
reagiu irado ao pedido de Cármen Lúcia, do Supremo, para que Artur Lira,
presidente da Câmara, explique porque mantém na gaveta pedidos de impeachment
presidencial na gaveta. Diz que vai conversar com Lira e insinuou que a decisão
de Cármen Lúcia faz parte de “uma coisa de errado vem acontecendo há muito
tempo no Brasil”. Seja como for, diz que só sai morto da Presidência.
Para
completar a exposição de suas agonias e paranoias, mencionou a ameaça
Lula da Silva. Caso vença a eleição, o ex-presidente pode escolher mais
dois ministros do Supremo, por exemplo, alerta Bolsonaro. Lula até pode ser
eleito, mas em uma eleição com “voto auditável”.
Bolsonaro
disse também que, com o fim de restrições a movimentos e negócios, com a
reabertura da economia, virá mais inflação, em especial nos alimentos, o que
seria uma campanha de governadores para prejudica-lo. Pois é.
Quando
se sente acuado, Bolsonaro costuma: 1) fazer ameaças autoritárias, como nos
comícios golpistas de 2020; 2) dizer que um tumulto socioeconômico próximo vai
obriga-lo a tomar medidas de exceção ou ao menos excepcionais; 3) adquirir
apoio do centrão; 4) prometer acordos de paz com os Poderes, farsas como
o “comitê
nacional” da Covid.
Sejam bravatas ou sejam golpeamentos, parece que Bolsonaro está inclinado a adotar a alternativa um do seu arsenal de abjeções.
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