O
Planalto escancara seu despreparo para lidar com o que ainda terá de enfrentar
Jair
Bolsonaro parece estar enfrentando uma tempestade perfeita. Mas não falta quem
pondere que o presidente está só colhendo as incontáveis ventanias que plantou.
E o espantoso é que, não obstante suas múltiplas agruras, Bolsonaro continua
pronto a ampliar o tamanho de cada nova crise com que vem tendo de lidar.
O
Planalto converteu-se numa máquina de turbilhonamento do governo e de suas
relações com o Congresso, o Judiciário e a sociedade como um todo. E, é claro,
de agravamento do clima de alta incerteza em que já vem operando a economia.
O
que se vê é um quadro de preocupante esgarçamento do governo. E como, da
perspectiva do Planalto, tudo parece estar dando errado ao mesmo tempo, o
presidente mostra-se a cada dia mais desarvorado, propenso a se afogar em todas
as poças.
De crise em crise, Bolsonaro escancara seu despreparo para lidar com um mínimo de serenidade e racionalidade com os complexos desafios que está fadado a enfrentar até o final do mandato.
O
avassalador recrudescimento da pandemia tirou o governo do prumo. Com o país
prestes a ultrapassar o macabro limiar de 400 mil mortes, até o início de maio,
o presidente tem perfeita consciência de que, mais cedo ou mais tarde, será
chamado a prestar conta dos inacreditáveis desmandos que se permitiu cometer
desde o início da pandemia.
O
episódio da instalação da CPI no Senado deixou mais do que claro quão precária
era a suposta blindagem, no Congresso, com que o Planalto contava para se
esquivar dos riscos dessa responsabilização.
Rodrigo
Pacheco procrastinou enquanto pôde a criação da CPI da pandemia, mas não teve
como evitar que, na esteira do clamor da opinião pública com a devastação da
pandemia, o Supremo Tribunal Federal (STF) determinasse a instalação da CPI
que, há muito, vinha sendo demandada por quase 40% dos senadores.
Diante
de desfecho tão adverso, o governo poderia ter feito uso de vasto leque de
manobras, mais do que conhecidas, para conter os danos da CPI, tirar-lhe o foco
e conspirar contra sua eficácia. Mas, em consonância com a forma destrambelhada
com que se vem comportando, Bolsonaro preferiu confrontar o STF.
E
desgastar-se, a não mais poder, com a divulgação de uma conversa telefônica com
um senador da República, em que tramava, em represália pela criação da CPI,
nada menos que o impeachment de ministros do Supremo.
Não
é de hoje que o Planalto vem tendo dificuldade para conter sua crescente
irritação com o STF. A CPI foi apenas a última palha. Sem ir mais longe, basta
lembrar as derrotas que lhe foram impostas pelo tribunal na disputa sobre a
competência de estados e municípios no combate à pandemia, na questão da
extensão das medidas de lockdown a templos religiosos e, mais recentemente, na
suspensão de parte da liberalização de acesso a armas, feita por decreto
presidencial.
Para
não falar de derrotas políticas indiretas de grande importância, como a que
adveio da anulação das condenações do ex-presidente Lula.
Tendo
em conta a escalada da tensão entre o Planalto e o STF, o que hoje se teme é
que a sabatina, no Senado, do nome que deverá ser indicado para preencher a
vaga aberta pela aposentadoria do ministro Marco Aurélio Mello, em julho, se dê
em clima já um tanto conflagrado.
O
processo de esgarçamento do governo vem-se fazendo sentir de forma
especialmente acentuada na condução da política fiscal. Só tendo conseguido
tramitar o Orçamento de 2021 no final de março, o governo logo se deu conta de
que a peça orçamentária aprovada pelo Congresso não poderia ser sancionada pelo
Planalto, sem que o presidente ficasse exposto a ser acusado de ter cometido
crime fiscal.
Nesse imbróglio, não houve quem tenha saído bem na foto. Nem o Congresso, nem o Planalto nem o Ministério de Economia. E em meio ao jogo de empurra e discussões de soluções estapafúrdias, o impasse continua, abril adentro. Não é bem o que se deveria esperar das autoridades responsáveis pela gestão de um quadro fiscal tão precário como o que hoje enfrenta o país.
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