Centro-extremismo
se juntou à extrema direita para cobrar que o STF fizesse julgamento político
em nome do bem do país
Receitem,
por favor, doses elevadas de Rivotril para os extremistas de direita e para
esta categoria realmente insólita surgida em certo colunismo: os extremistas de
centro. Daqui a pouco, será preciso chamar o “Bonde do Tigrão” para fazer uma
releitura de “Elas estão descontroladas”.
Uns
e outros, ainda que se estranhando, estavam, na prática, a advogar que o STF
fizesse um “julgamento político” da anulação
dos processos que dizem respeito a Lula que tramitaram na 13ª Vara Federal de
Curitiba.
Não
aconteceu. Por 8
a 3, o Supremo fez a coisa certa. Ademais, não se julgava mérito ali. Nunes
Marques, o Kássio Conká, ignorou a natureza do embate. Abriu divergência e
meteu os pés pelos pés.
Afirmou haver provas de que tríplex e sítio pertenciam a Lula. Mentira. Não há. Disse haver ligação entre contratos da OAS com a Petrobras e apartamento. Mentira. O próprio Sergio Moro nega. Conká já deu três votos exemplares do buraco civilizacional em que nos metemos.
Volto
aos descontrolados. Os fascistoides, por óbvio, temem um eventual confronto nas
urnas entre o seu líder, Jair Bolsonaro, e o ex-presidente. E o
centro-extremismo, ainda que de forma sorrateira, advogava, vamos dizer, a
utilidade redentora da manutenção de uma farsa judicial.
No
fim das contas, ela seria útil porque se evitaria, segundo esse juízo torto,
uma polarização que consideram ruinosa. Mais um pouco, e pediriam a Lula uma
autoimolação para o bem do país. A coisa é de um despudor assombroso. Não
gostam dos polos dados? Que tal tentar criar um outro?
O
julgamento ainda em curso —falta a questão da suspeição
de Moro, já votada pela Segunda Turma— é, entendo, um dos mais importantes
da história do STF e do país.
Que
fique claro: não se trata de uma revisão integral e minuciosa da razia
provocada pela Lava Jato, mas talvez estejamos diante de um sinal: ou a corte
recupera —e que continue nesse caminho (se for um)— a condição de ente capaz de
fazer o sistema de Justiça voltar para o eixo, ou, então, se mantém numa
excepcionalidade pretensamente virtuosa, que sempre termina em desastre.
Quantos milhares de cadáveres são necessários para que se corrija o rumo?
O
que tem a ver uma coisa com outra? Os seres trevosos só assumiram o
protagonismo fanaticamente homicida que se vê porque passamos a nos movimentar
numa terra sem lei, em que voluntarismo doidivanas e solipsismo judicial se
estreitaram num abraço insano para supostamente moralizar a política.
Jamais
se esqueçam do monumento
que Deltan Dallagnol queria erguer em Curitiba com recursos
recuperados pela Lava Jato. Ele explicou a colegas a sua pretensão, segundo
reportagem da Vaza Jato: “A minha primeira ideia é esta: algo como dois pilares
derrubados e um de pé, que deveriam sustentar uma base do país que está
inclinada, derrubada. O pilar de pé simbolizando as instituições da justiça. Os
dois derrubados simbolizando sistema político e sistema de justiça”.
Obviamente
se expõe aí, ainda que com a breguice de tabaréu deslumbrado com a ribalta, um
projeto de poder. Não se ergueu o monumento, mas “o sistema político” e o
“sistema de justiça”, para ficar nas suas palavras, beijaram a lona.
Ocorre
que o pilar que se alevantou traduz à perfeição as aspirações fascistoides de
um grupo que ousou ignorar os fundamentos da democracia, do Estado de Direito e
do devido processo legal. Deixamo-nos sequestrar pela tese de que justiceiros,
organizados como se fossem uma milícia, poderiam substituir as instituições.
Os
extremistas de centro resolveram se abraçar a seus congêneres à direita para
brandir a tese mentirosa de que a anulação abrirá caminho para centenas de
outras. O próprio Luiz
Fux vocalizou a balela terrorista na quarta-feira (14).
A afirmação é tão verdadeira como aquela que assegurava que a execução da pena só depois do trânsito em julgado colocaria na rua quase 200 mil condenados. Não eram e não são argumentos, mas histeria. Ressuscitem o Bonde do Tigrão. Ou tomem Rivotril. Que o STF saia definitivamente da Terra dos Mortos.
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