O
ambiente é de total indefinição e surpresas devem acontecer
Uma das lições de 2018 foi tirada do início prematuro da pré-campanha e da curta duração da campanha presidencial em si. A campanha curta decorreu da imposição de limites de gastos por candidatura e do fim das doações milionárias de empresas, bem como da decisão do Congresso Nacional de reduzir pela metade o tempo da campanha.
As decisões do Legislativo e o ambiente polarizado por causa da Operação Lava-Jato e pelo processo de impeachment de Dilma Rousseff aqueceram a pré-campanha. Ao mesmo tempo, a Lava-Jato, com seus acertos e excessos, devastou o mundo político.
Poucos,
além de Jair Bolsonaro, perceberam o alcance das mudanças e o início prematuro
da corrida eleitoral. No começo de 2017, ele já estava em plena atividade
eleitoral. Aproveitava-se de três fatores: não ser levado a sério pelo mundo
político como candidato, do desgaste do establishment político com o avanço das
investigações de corrupção e o uso intensivo e eficiente das redes sociais.
Fato é que, às portas das eleições de 2018, remanesceram duas narrativas: Bolsonaro como o candidato anti-establishment e Fernando Haddad como o “procurador” do lulismo. O centro e as periferias não conseguiram se posicionar. Ficaram pelo meio do caminho.
“O
espaço para candidaturas e alianças potencialmente improváveis ainda está em
aberto”
Considerando
o quadro atual, como estamos em termos de pré-campanha? Vale lembrar Juan
Manuel Fangio, multicampeão argentino de Fórmula 1, que dizia: “Carreras son carreras, y terminan cuando se
baja la bandera de cuadros”. A máxima é reforçada pelo fato de as
circunstâncias de 2018 não mais estarem presentes. Temos um ambiente político
muito diferente. Mas, como sempre, cheio de eventos inesperados.
Dois
deles se destacam. O primeiro é a pandemia de Covid-19, tema que entrou na
agenda no início de 2020 e que continuará a afetar a política e a economia até
as vésperas das eleições. Tanto pelo aspecto sanitário quanto pela questão
econômica. O outro é a entrada de Lula no rol de pré-candidatos.
A
potencial polarização Bolsonaro versus Lula
— que existiu em 2018 — e a desorganização política dos partidos de centro nos
remetem a uma história conhecida. Mas, talvez, o cenário não seja tão óbvio.
A
demora na queda da taxa de mortalidade e a lentidão no processo da vacinação
terão reflexos sérios na construção de narrativas. E a CPI da Pandemia, mesmo
que, eventualmente, seja tutelada por uma maioria governista, servirá de
palanque para ataques ao governo. O governo, pelo seu lado, ainda enfrenta
a indefinição sobre como a economia vai se comportar em 2022. No centro, a
falta de um candidato natural e a desunião dos partidos são enigmas a ser
resolvidos. A fragmentação da esquerda também é uma questão.
Todos
os problemas hoje estão ocorrendo da porta para dentro nos arraiais políticos.
Enquanto isso, o eleitor não polarizado assiste ao desenrolar da história e
aguarda a passagem do tempo para tomar a sua decisão. O espaço para eventuais
candidaturas surpreendentes e alianças potencialmente improváveis ainda está em
aberto. Afinal, o Brasil não cansa de surpreender.
Publicado em VEJA de 21 de abril de 2021, edição nº 2734
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