sexta-feira, 16 de abril de 2021

Bruno Boghossian – Um governo investigado

- Folha de S. Paulo

Apurações miram ações pelas quais presidente e auxiliares devem ser responsabilizados

A frequência com que Jair Bolsonaro tenta aparelhar e intimidar órgãos de controle sugere que o presidente entendeu o perigo das investigações que cercam o governo. A troca de um chefe da Polícia Federal, o complô para amedrontar opositores na CPI da Covid e sua aliança permanente com a Procuradoria-Geral da República são manobras desesperadas para enterrar esses riscos.

Este é um governo sob investigação. Bolsonaro se vende como um presidente perseguido, mas as apurações abertas ao longo dos últimos anos miram decisões e ações concretas, pelas quais ele e seus auxiliares deveriam ser responsabilizados.

Na quarta (14), o superintendente da PF no Amazonas pediu ao STF a abertura de uma investigação contra Ricardo Salles (Meio Ambiente). Segundo o delegado, o ministro fez uma parceria com madeireiros para criar obstáculos a uma operação contra a extração ilegal de toras na região. A apuração diz que Salles patrocina interesses privados.

A gestão Bolsonaro já é conhecida por defender desmatadores, mas Salles reclamou do que chama de "demonização" dos empresários. Em vez de esperar a investigação, o diretor-geral trocou o chefe da PF amazonense. Pode ter sido coincidência, mas a mudança veio a calhar.

Também está na mira das autoridades a atuação calamitosa do governo na pandemia. O Ministério Público apresentou uma ação de improbidade contra o ex-ministro Eduardo Pazuello por omissões na crise de oxigênio no Amazonas. Além disso, o general e o presidente devem ser os principais alvos do Senado na CPI da Covid —que o Palácio do Planalto se esforça para tumultuar.

Bolsonaro e amigos sabem o que fizeram. Na reunião ministerial de abril do ano passado, o presidente imaginou o que aconteceria se a esquerda vencesse a próxima eleição. "Eu e uma porrada de vocês têm que sair do Brasil, porque vão ser presos. E eu tenho certeza que vão me condenar por homofobia", disse. O rol de crimes é bem maior, e o acerto de contas não deve esperar até 2023.

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