Inflação
em alta melhora as contas do ano que vem
Em
uma rápida olhada nas contas do Orçamento para este ano é possível encontrar
receitas que poderiam ser realocadas. Um exemplo é o Bolsa Família, orçado em
R$ 34,8 bilhões, sendo que em 2020 o gasto foi de 19 bilhões, e de R$ 33
bilhões em 2019. Acontece que neste exercício por quatro meses o Bolsa Família
será financiado com parte dos R$ 44 bilhões destinados ao auxílio emergencial.
Feitas
as contas, estariam sobrando cerca de R$ 15 bilhões no orçamento do programa,
segundo fontes. Uma verba que, suspeita-se, seria destinada a colocar em pé um
programa social de renda mínima com o selo de Jair Bolsonaro, no segundo
semestre do ano, para lhe dar melhores condições de disputar a reeleição.
É uma lástima, aliás, ver o que está acontecendo com o Bolsa Família, referência de programa de transferência de renda para os mais pobres, que está sendo objeto de desmonte.
Outra
receita se refere à reserva de contingência, estimada em R$ 16 bilhões. Só em
duas rubricas do Orçamento é possível, portanto, encontrar cerca de R$ 31
bilhões que poderiam entrar nas contas, aliviando as pressões sobre gastos
obrigatórios e sobre as emendas parlamentares.
A
lei do Orçamento foi aprovada em março, pelo Congresso, com despesas
obrigatórias subestimadas em cerca de R$ 20 bilhões, para acomodar o aumento de
emendas parlamentares. Uma artimanha que tornou o Orçamento uma peça de ficção
e que o presidente Bolsonaro não quer sancionar, por receio de incorrer em
crime de responsabilidade e posterior processo de impeachment.
O
Orçamento, tal como aprovado pelo Congresso, está em um impasse e nos últimos
dias as negociações entre o Parlamento e a área econômica têm sido tensas. O
presidente da Câmara, Artur Lira (Progressista-AL), não concorda com vetos nem
cortes nas emendas parlamentares.
Lira
apresentou como solução para o impasse a sanção total do Orçamento, seguida do
envio de um projeto de lei (PLN) para corrigir os eventuais excessos das
emendas parlamentares acatadas pelo relator, senador Marcio Bittar (MDB-AC). No
projeto seriam refeitos, também, os prognósticos de gastos obrigatórios que
foram subestimados, seja da Previdência Social, seja do seguro-desemprego, dentre
outros.
Se
o Orçamento deste ano está justo, o do próximo exercício terá folga maior. Isso
porque a inflação que será parâmetro para a confecção do projeto de lei do
orçamento, do meio do ano, estará na casa de 8%. Uma taxa de inflação desse
porte dá ao Orçamento cerca de R$ 111 bilhões a mais de receitas (ver mais na reportagem Inflação em alta “alivia” Orçamento de 2022 e amplia teto
em R$ 106 bi).
Há
falta de senso de urgência entre os atores envolvidos na discussão do
Orçamento. As empresas estão desde janeiro sem a menor atenção do governo, que
promete a reedição de linhas de créditos como as do Programa Nacional de Apoio
às Microempresas e Empresas de Pequeno Porte (Pronampe) e o Benefício
Emergencial para Preservação do Emprego e da Renda (BEm), medidas implementadas
no ano passado para socorrer empresas sob o impacto da pandemia de covid-19.
Para isso, no entanto, é preciso assegurar recursos no Orçamento da União para
fazer frente ao fundo de garantia de crédito.
Por
meio do BEm, as empresas fizeram acordos de redução de jornada e salário ou de
suspensão de contratos de trabalho, garantindo ao trabalhador uma porcentagem
do seguro-desemprego a que teria direito se fosse demitido. O benefício foi
pago com recursos do Fundo de Amparo ao Trabalhador (FAT) e, segundo dados do
governo, o programa preservou o emprego e a renda de cerca de 10,2 milhões de
trabalhadores, bem como a existência de 1,5 milhão de empresas.
Já
o Pronampe, que deve se tornar permanente, é uma linha de crédito destinada a
ajudar os pequenos negócios e manter empregos durante a pandemia. As empresas
beneficiadas assumiram o compromisso de preservar o número de funcionários e
puderam utilizar os recursos para financiar a atividade empresarial, como
investimentos e capital de giro. Segundo informações oficiais, o programa gerou
em torno de R$ 37 bilhões em financiamentos para quase 520 mil micro e pequenas
empresas.
O
fôlego das empresas do setor privado, sobretudo das pequenas e médias, está
curto, muito curto, e o país está em uma situação de guerra contra uma doença
persistente que só faz aumentar o número de óbitos.
Não é necessária uma crise em torno do Orçamento deste ano, criada e alimentada pelo Parlamento e pelo Executivo, em que parece que ambos vão se afogar em um copo de água.
Nenhum comentário:
Postar um comentário