Por
Cristian Klein / Valor Econômico
RIO - O governador em exercício do Rio, Cláudio Castro (PSC), teve a imagem e a liderança questionadas nos últimos dias, quando protagonizou um embate com o prefeito da capital, Eduardo Paes (DEM), e foi flagrado em duas ocasiões contrariando o próprio decreto que busca aumentar o isolamento social no pior momento da pandemia. No cargo desde o afastamento de Wilson Witzel (PSC) por corrupção, há sete meses, Castro terá que mostrar capacidade de articular um bloco bolsonarista para a disputa no ano que vem - o que está em xeque. Sua missão é evitar o processo de “crivellização” do seu projeto eleitoral.
Para
um interlocutor que participou da distensão da crise com Paes, Castro terá
dificuldade de obter um apoio explícito de Jair Bolsonaro (sem partido), apesar
do alinhamento que o governador busca com o presidente da República. “Quem
conhece Bolsonaro diz que é impossível ele ficar com o Cláudio”, afirma essa
fonte, para quem o mais provável é que a família Bolsonaro tente encontrar
outro nome, mais próximo. A situação do governador seria semelhante à do
ex-prefeito Marcelo Crivella (Republicanos), acrescida de desvantagens.
Derrotado por Paes no ano passado, Crivella teve o apoio constrangido de Bolsonaro, mesmo contando com um conjunto de recursos que faltam a Castro, além da máquina de governo: a influência da Igreja Universal, o apoio de um partido de tamanho médio, o Republicanos, e de uma emissora de TV, a Record. “Apesar disso, você viu o Bolsonaro cair de cabeça [na campanha do Crivella]?”, questiona essa fonte, lembrando ainda o pouco investimento que o governo federal tem feito no Estado do Rio, a despeito de ser o reduto eleitoral do clã Bolsonaro e da busca de proximidade de Cláudio Castro. A estagnação das negociações sobre o Regime de Recuperação Fiscal do Rio seria um exemplo da falta de prioridade com o Estado.
Aliado
do governador e do presidente, o deputado federal Otoni de Paula (PSC-RJ)
discorda desse juízo: “O presidente Bolsonaro só não apoiará Cláudio Castro se
houver um escândalo”. Em sua opinião, o apoio de Bolsonaro depende de como
estará a popularidade do presidente pelo país: “O Cláudio Castro tem uma
vantagem. O Bolsonaro pode derreter em outros Estados e isso no Rio ser menor,
já que é onde o bolsonarismo tende a ser mais forte, porque é o reduto do
presidente”. Para o deputado, o ex-prefeito não recebeu o apoio entusiasmado do
ocupante do Planalto porque “a base bolsonarista não queria Crivella”. “Até
pela rejeição dele e pelos anos em que flertou com a [ex-presidente] Dilma”,
argumenta.
No
último mês, Cláudio Castro passou a recorrer aos serviços do consultor e
ex-deputado federal Rodrigo Bethlem, que cuidava da estratégia eleitoral e de
governo de Marcelo Crivella. O maior desafio do governador em exercício é o de
ser muito pouco conhecido da população fluminense - seu único cargo eletivo
anterior foi o de vereador - e terá muito pouco tempo para construir uma imagem
e estabelecer uma marca de governo. Um interlocutor de Castro argumenta que ele
“não precisará ser um bolsominion”, mas “mostrar sua virtude como um cara do
entendimento”. O mantra terá que ser “sem tempo a perder”, para fazer um
governo de quatro anos em apenas um ano e sete meses, diz a fonte.
No
sábado, porém, Castro inaugurou o hospital Dr. Ricardo Cruz, em Nova Iguaçu, na
Baixada Fluminense, com atraso de um ano, numa cerimônia criticada pela
aglomeração. O evento contou com centenas de convidados, parte deles sem
máscara, e desrespeitou o próprio decreto estadual de medidas de combate à
pandemia. A inauguração do hospital, com metade da capacidade de leitos
prometida, ocorreu num clima antecipado de campanha eleitoral, com discursos de
deputados estaduais aliados. No fim de semana anterior, Castro comemorou seu
aniversário de 42 anos, com uma festa numa casa em Itaipava, distrito de
Petrópolis, região serrana do Rio. A celebração pegou mal tanto pelo grave
momento da pandemia quanto por corroborar a acusação de Paes de que medidas
flexíveis durante o “lockdown”, como defendidas pelo governador, levariam a uma
micareta ou à “Castrofolia”.
Com
o conflito público, Paes quis “passar uma risca de giz no chão”, ilustra
Bethlem, numa inflexão em que o prefeito busca ser o aglutinador do campo de
centro-esquerda. Ainda que não concorra ao Palácio Guanabara, Paes procura
realizar no Rio o papel de organizador do campo que seu aliado e deputado
federal Rodrigo Maia (DEM-RJ), ex-presidente da Câmara, gostaria de fazer
nacionalmente, compara.
Neste movimento, Paes se aproxima até do deputado federal Marcelo Freixo (Psol), nome mais forte da esquerda à eleição. Um analista do tabuleiro de 2022 aponta que Castro será menos dependente de Bolsonaro do que foi Crivella porque o ex-prefeito tinha alta rejeição e Paes era “franco favorito” a voltar ao cargo. Já Freixo diz que o ano que vem será muito diferente da disputa municipal com Crivella porque Bolsonaro, em busca da reeleição, precisará de Castro como aliado. “Ele vai ter que ter um palanque”, afirma.
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