segunda-feira, 5 de abril de 2021

Economia deve ditar alcance de aliança do centro para eleições presidenciais de 2022

Dirigentes partidários e cientistas políticos acreditam que plano econômico do grupo será chave para definir tamanho do bloco. Para garantir competitividade, apresentação de candidato fica para o segundo semestre

Gustavo Schmitt / O Globo

SÃO PAULO — A discussão em torno de um candidato que possa representar o centro nas eleições presidenciais de 2022 deve ganhar corpo a partir de outubro, segundo dirigentes partidários e cientistas políticos ouvidos pelo GLOBO. Até lá, o grupo deve continuar negociando pontos de um programa em comum que sustente essa candidatura. Na última semana, seis presidenciáveis desse campo assinaram um manifesto em defesa da democracia, um tema de fácil consenso, mas ainda há outras áreas em que é preciso construir acordos. Analistas acreditam que o projeto econômico defendido pelo grupo vai ajudar a definir o tamanho da aliança eleitoral.

Para abrigar Ciro Gomes (PDT), por exemplo, o grupo teria que ter um projeto com traços mais desenvolvimentistas, proposta que contraria a visão de partidos como PSDB, DEM e Novo. Os formuladores de políticas públicas dessas siglas costumam defender privatizações e um Estado mais enxuto.

Além das propostas para a economia, o cientista político da FGV Eduardo Grin vê a área social como um possível empecilho para o sucesso dessa coalizão. Ele avalia que, olhando para o grupo que assinou o manifesto de quarta-feira será mais fácil o chegar a uma unidade sem Ciro. Além do pedetista, endossaram o documento os governadores de São Paulo, João Doria (PSDB), e do Rio Grande do Sul, Eduardo Leite (PSDB), o apresentador Luciano Huck, o ex-ministro Luiz Henrique Mandetta (DEM) e o empresário João Amoedo (Novo).

— Uma unidade crível não é fácil, já que esse grupo representa uma miríade de forças políticas. Ciro é o mais distante do ponto de vista ideológico, pela defesa do papel do Estado na economia. O Novo é mais liberal e há ainda uma visão de políticas sociais mais à direita, representadas por Doria. Agora, se for sem o Ciro deve facilitar o diálogo — afirmou Grin.

Calendário apertado

Segundo ele, o ideal seria que o candidato estivesse definido, no mínimo, um ano antes da eleição. O principal objetivo dessa candidatura é se mostrar como alternativa ao presidente Jair Bolsonaro e ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que recuperou seus direitos políticos. Como ambos já estão em evidência, o terceiro adversário da disputa teria menos tempo para se apresentar aos eleitores.

— Pelo menos daqui até outubro esse grupo vai ter que dizer a que veio. Há que se ter pressa, já que a polarização aumenta a cada dia — disse Grin.

Um dirigente partidário, que tem participado das discussões em torno da união do centro, acredita que até outubro as legendas do grupo devem estar perto de apresentar um ou dois nomes.

Professor da USP, o cientista político José Álvaro Moisés, concorda que uma coalização de centro precisaria de pelo menos um ano para se viabilizar. Ele vê a diferença de visões da economia como o maior desafio para a aliança, embora acredite que há “pontos de contato” importantes em temas como a defesa da democracia, o enfrentamento à pandemia e o combate às desigualdades sociais.

— Esse grupo representa mais que uma carta de intenções, mas uma tomada de posição. O que esses possíveis candidatos fizeram foi dizer que, a despeito das diferenças, vão adotar uma conduta de respeito mútuo. Mas o prazo pra celebrar essa coalização é 2021. No ano que vem, é preciso começar com um ou dois nomes, com um projeto para convencer o eleitorado a recusar a polarização — afirmou.

O cientista político Eurico Figueiredo, da UFF, por outro lado, acredita que uma eventual aliança deveria ocorrer mais próximo das eleições para se ter um cenário mais claro de quais são os nomes mais fortes.

— Se houver a frente, creio que só vai se definir em abril do ano que vem, porque é preciso esperar as pesquisas eleitorais para ver quem tem mais condições de dizer que é preciso acabar com a polarização e defender a pacificação do país.

Apesar disso, ele pontua que Bolsonaro não era favorito nas pesquisas de 2017, ano anterior ao da eleição.

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