Pedro
Venceslau, O Estado de S. Paulo
Escolhido líder da minoria na Câmara com o apoio do PT, que abriu mão da vaga em um gesto para as eleições de 2022, o deputado Marcelo Freixo (PSOL-RJ) quer aproximar seu partido do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Freixo, que é cotado para disputar o governo do Rio de Janeiro, também defendeu, em entrevista ao Estadão, uma frente ampla – que pode incluir até uma aliança com o centro – para derrotar o bolsonarismo no Estado.
A
escolha do sr. como líder da minoria na Câmara foi um gesto do PT para as
eleições de 2022?
O
PT foi de grande generosidade, mas a vez era do PSOL, que foi o único partido
que não tinha ocupado a liderança da minoria ou da oposição. (Em 2022) Se
formos capazes de montar uma aliança de centro-esquerda no Rio, topo colocar
meu nome nesse projeto.
Há uma
aproximação com o PT? A candidatura do sr. ao governo do Rio está
consolidada?
Sempre
tive muito diálogo com o PT. O projeto para o governo do Estado existe.
Coloquei meu nome à disposição. Se eu for disputar o governo, terei de abrir
mão de um mandato de deputado federal. Tenho uma situação delicada. Enfrentei
as milícias no Rio e isso me trouxe uma situação particular. Se for para entrar
na disputa, é para ganhar. Isso significa ter apoio do campo progressista e do
centro.
O que
define como “centro”?
O PSB é fundamental e a relação é muito boa. O PCdoB tem conversado comigo. PT e PDT também. Mas precisamos de um palanque no Rio que reúna Ciro (Gomes) e Lula. É assim no Ceará. A eleição no Rio é para ganhar. Derrotar o Bolsonaro aqui, no berço dele, é a melhor contribuição que podemos dar para o próximo presidente. Acho importante ter apoio do Eduardo Paes e do Rodrigo Maia. O César Maia sempre votou em mim. O próprio Rodrigo diz isso.
O que
achou desse manifesto em defesa da democracia que foi assinado por seis
presidenciáveis, mas excluiu Lula?
Qualquer
manifesto pela democracia nos dias de hoje é válido e bem-vindo. Mas quando
escolhe quem vai ou não participar, ganha um perfil eleitoral, o que é válido
também.
Acredita
que é possível sair um nome de consenso daquele grupo, que reúne Ciro Gomes
(PDT), Eduardo Leite (PSDB), João Amoêdo (Novo), João Doria (PSDB), Luciano
Huck e Luiz Henrique Mandetta (DEM)?
Quem
lançou o manifesto pensa que dali pode sair um nome que tenha intenção de
caracterizar uma terceira via. Quem ameaça a democracia hoje é Bolsonaro e sua
turma. Lula readquiriu seus direitos eleitorais, é candidato e tem chance
grande de chegar ao segundo turno. Não sabemos se há espaço para uma terceira
via e se ela vai conseguir se viabilizar. Isso tem a ver com o desmoronamento
do Bolsonaro, que hoje estaria no segundo turno. Mas não dá para prever o
desgaste até as eleições. De qualquer forma, é legítimo que busquem uma
terceira via e que venha em nome da democracia. Tirando Ciro, todos os outros
que assinam o manifesto votaram no Bolsonaro em 2018. Se o compromisso deles
hoje é com a democracia, acredito que não repetiriam o voto no atual
presidente.
Como
avalia a presença do Ciro Gomes neste manifesto?
Tenho
muito respeito pelo Ciro. É um dos quadros mais preparados na política. Tem um programa
econômico muito avançado. Acho o Ciro um corpo estranho naquele grupo, mas
entendo o movimento de alianças mais amplas que possam criar uma alternativa.
Se pudesse escolher, gostaria de ver o Ciro conversando com o Lula. O Ciro está
buscando uma alternativa fora do PT, mas aquele talvez não seja um caminho
viável. Ainda aguardo uma aproximação do campo progressista como um todo.
Essa
aproximação do campo progressista como um todo seria em torno do Lula?
Tem
de ser em função de um programa. O Ciro tem um programa, o PT tem uma história.
O ideal seria reunir o campo progressista e o centro. Não dá para dividir o
País apenas entre bolsonaristas e petistas.
O sr.
vislumbra uma aproximação inédita entre PSOL e PT em 2022? Admite que o
partido, pela primeira vez, não tenha candidato ao Planalto e apoie Lula?
Sim.
O próprio encontro nacional do PSOL e o documento tirado ali apontam nessa
direção. Há uma leitura de realidade que aponta essa mudança. Tenho conversado
muito com o (Guilherme) Boulos
e a direção do PSOL. Hoje, há uma ampla maioria do partido querendo essa
aliança. Eu defendo que onde o PSOL for disputar eleições para governo, que se
faça essa aliança ampla, inclusive contando com o centro.
Então o
sr. defende que o PSOL apoie Lula em 2022?
Defendo que o PSOL esteja em uma aliança ampla de centro-esquerda pela democracia. E que o partido apoie o candidato que tenha mais visibilidade para derrotar Bolsonaro.
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