Bernardo
Mello / O Globo
RIO
— Vislumbrando o apoio de antigos adversários, o deputado federal Marcelo
Freixo (PSOL-RJ) articula uma candidatura ao governo do Rio, em 2022, que
inclua partidos além da esquerda, o que chama de “frente ampla para derrotar o
bolsonarismo”. Ao GLOBO, o parlamentar disse já ter falado sobre o tema com o
ex-presidente da Câmara Rodrigo Maia (DEM-RJ), além de conversar também com o
prefeito do Rio, Eduardo Paes (DEM). Ambos estiveram em lados opostos ao do
psolista nas duas últimas eleições que ele disputou para a prefeitura da
capital, em 2012 e 2016.
Por
ora, mesmo sem esconder o interesse de concorrer ao Palácio Guanabara, Freixo
evita bater o martelo sobre sua candidatura. Em discurso semelhante ao da
campanha de 2020, quando desistiu da corrida à sucessão de Marcelo Crivella
(Republicanos) no Rio após ter dificuldades para aglutinar outras siglas de
esquerda, o deputado afirma só estar disposto a tentar o governo caso seja
formada uma união de diferentes forças “para ganhar”. Caso contrário, planeja
tentar novo mandato na Câmara — ele foi escolhido, no último mês, como novo
líder da Minoria na Casa.
— Já fui procurado por várias forças. Acho ótimo que possamos abrir este debate com antecedência, pelo tamanho da responsabilidade que o Rio exigirá. O próprio Rodrigo (Maia) falou sobre o interesse em me apoiar, se for numa frente ampla com capacidade de reunir forças — afirmou.
Maia
deve deixar o DEM até o início de 2022 e tende a se filiar ao MDB, hoje
presidido no Estado do Rio pelo ex-deputado Leonardo Picciani. Em um primeiro
momento, Paes não deve migrar de partido. Além de PT e PDT, cujas lideranças
fluminenses mantêm boa relação entre si e com Freixo, outra sigla no radar de
uma aliança anti-bolsonarista é o PSDB, que vem cortejando o presidente da
Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), Felipe Santa Cruz.
A
eventual aliança seria um passo inédito no PSOL, que apenas em 2020 autorizou
seus diretórios locais a fazerem chapas com a centro-esquerda — antes, os
acordos tinham que ser avaliados caso a caso pela direção nacional — e nunca se
aliou a siglas de centro no primeiro turno. De olho em possíveis resistências
no PSOL, lideranças petistas e pedetistas já sondaram Freixo sobre uma possível
filiação. Ele afirma, porém, que debaterá internamente no partido a respeito de
uma aliança ampla no Rio, e cita a resolução do mês passado em que o PSOL trata
de um possível apoio ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) em 2022.
—
Se o PSOL indicou possibilidade de apoiar o Lula, que deve buscar um leque
amplo de alianças, não faz sentido não costurar isso no Rio também. O primeiro
momento é entender os limites do partido. Mas defendo que a frente ampla é
condição para a minha candidatura e também para vencer Bolsonaro, o que vai
além dos limites de qualquer partido — diz Freixo.
Por
defender a costura de uma aliança nacional e estadual, um empecilho dentro da
esquerda para a união desejada por Freixo é a rivalidade entre Lula e Ciro
Gomes, presidenciável do PDT, que vêm trocando farpas publicamente.
Interlocutor de Lula e de Ciro, com quem diz manter boa relação, Freixo vêm
estimulando que ambos conversem novamente, a exemplo do encontro que tiveram
antes de o petista recuperar sua elegibilidade, em 2020.
Por
outro lado, aliados apostam que uma aliança em torno de Freixo não dependeria
de acordo nacional entre os partidos. Nesse caso, uma eventual candidatura de
Freixo ao governo daria palanque a Ciro e a Lula, a exemplo do que ocorreu em
2018 no Ceará onde o governador Camilo Santana (PT), correligionário de
Fernando Haddad, também fez campanha para Ciro, seu aliado.
Leia
a seguir mais trechos da entrevista:
Lula e
Ciro podem se reconciliar antes de 2022?
Tenho
boa relação com os dois, ambos são imprescindíveis. Seria importante esta
unidade não só para derrotar o Bolsonaro, o que é uma tarefa para 2022, mas
também para superar o bolsonarismo. Isto vai levar mais tempo.
A nível
nacional, PT e PDT parecem dispostos a construir alianças, mas por caminhos que
não se cruzam...
Lula
sempre teve capacidade de unir diferentes setores fora da esquerda. Ele está
consciente de que uma aliança ampla será necessária para governar o Brasil. Se
o PT tiver o Lula como candidato, precisará ter a sabedoria de abrir mão de
candidato em alguns estados.
Quanto
ao movimento do Ciro (de
assinar manifesto com Doria, Huck, Amoêdo e Mandetta), vejo uma
grande valia. Todos aqueles que assinaram com ele estão dizendo, pelo que
entendi, que não votam mais em Bolsonaro. Isto eu quero aproveitar.
O senhor
foi adversário direto de Paes e de Maia na eleição municipal de 2012 e também
se colocou como opositor em 2016, no primeiro turno. Como surgiu esta
aproximação?
Tenho dito que agora, diante da ameaça que Bolsonaro representa ao convívio das diferenças possibilitado pela democracia, é preciso buscar o que temos em comum mais do que o que nos separa. Brinco com o Rodrigo que o pai dele, o (ex-prefeito) Cesar Maia, sempre votou melhor do que ele, porque votou em mim em 2016 no primeiro e no segundo turno (contra Marcelo Crivella). Tenho conversado com o Rodrigo quase toda semana, construímos um diálogo especialmente por nossa convivência no Congresso.
O governador Cláudio Castro vem costurando alianças com a família Bolsonaro e com várias forças políticas do estado. Como o senhor avalia esta movimentação?
Cláudio
é cordial, mas profundamente incompetente. Não tem liderança e está refém do
Bolsonaro. O problema nº 1 a ser resolvido é o da segurança pública. Hoje, uma
parcela significativa da população não vive sob o regime da Constituição de
1988, mas sim sob influência de tráfico ou milícia.
Na
eleição de 2020, o PSOL trouxe o ex-comandante da PM Ibis Pereira para ser vice
de Renata Souza. É possível pensar num arranjo semelhante em 2022?
A
aliança precisa envolver um mosaico de forças, incluido os integrantes das
polícias Militar e Civil. Enfrentar o crime, valorizar a polícia e
modernizá-la, refazendo seu papel. Precisamos disputar as polícias, não pode
ser uma polícia baseada em valores bolsonaristas. E também envolver neste
diálogo os moradores de áreas mais pobres e das favelas, os jovens da
periferia, a Baixada Fluminense como um todo e as forças políticas do estado,
os prefeitos... o deputado André Ceciliano (do PT, presidente da Alerj), inclusive, é um
entusiasta desse projeto, um nome importante. Precisaremos ter um Rio de
diálogo.
Em que
momento pretende definir se será de fato candidato?
Meu nome está colocado se tivermos a capacidade de fazer essa aliança ampla, só vou concorrer ao governo nessas condições. Se não for, vou ser candidato a deputado.
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