Bolsonaro tenta fazer, do limão, da CPI e das mortes, uma limonada
O
ambiente está como o diabo e o presidente Jair
Bolsonaro gostam: uma verdadeira bagunça, com a pandemia fora
de controle, as mortes disparando e as vacinas e leitos acabando, mas
todas as atenções de Executivo, Legislativo e Judiciário estão na CPI da Covid no
Senado. Em vez de discutir e agir contra a pandemia, Brasília faz o que
Bolsonaro quer: esquece a covid para privilegiar a guerra política.
Em
conversa gravada com o curioso senador Jorge Kajuru (Cidadania-GO), Bolsonaro resumiu sua estratégia: fazer do limão uma limonada.
Finge que não tem nada a ver com pandemia – nem com o próprio governo e os
erros do governo – e faz chantagens contra ministros do Supremo, governadores e
prefeitos, enquanto compra apoios no Senado.
A sensação, porém, é de que a CPI vai pegar fogo contra Bolsonaro e o Ministério da Saúde, porque há uma consciência generalizada, dentro e fora do Congresso, de que os fatos, as falas e os resultados não admitem tergiversação nem jogar a poeira – e os mortos – para debaixo do tapete.
No
meio, entre os pró e os contra a CPI, o plenário do Supremo poderá dar uma
mãozinha para Bolsonaro amanhã, ratificando a liminar do ministro Luís Roberto Barroso que mandou instalar a CPI, mas
ressalvando que o funcionamento depende de condições práticas e reuniões
presenciais. Em resumo: o STF mantém a instalação da CPI, mas liberando os
trabalhos depois da pandemia. Esquisito? Muito. Mas o que não é esquisito no
Brasil hoje em dia?
Desde
que Barroso determinou a instalação da CPI, ninguém mais fala nos erros
criminosos de Bolsonaro na pandemia e que faço questão de frisar aqui: troca de
ministros na pior hora, desdém ao tratar da crise e das mortes, péssimos exemplos
para a cidadania, gastança com remédios inúteis e perigosos e desleixo ao
contratar vacinas.
Assim,
Bolsonaro vai fazendo a limonada. Dá o grito de guerra à arquibancada
bolsonarista e não se fala de seus erros, só contra ministros do STF e de
estender as investigações para governadores e prefeitos. Exemplo: em vez de
cuidar de Queiroz, rachadinhas, funcionários fantasmas e mansões de R$ 6
milhões, o senador Flávio Bolsonaro está a mil por hora para enlamear os
outros.
Então,
a CPI é boa para Bolsonaro e ruim para seus adversários e todos os demais? Não!
Hoje será a leitura da CPI, e é hora de organizar os times para anunciar os 11
titulares e seus reservas amanhã. Apesar das chantagens de Bolsonaro e de
eventuais saídas heterodoxas do Supremo, é isso, a composição da comissão, que
vai definir o principal: até onde a CPI irá.
Pode
até resvalar para Estados e municípios, mas seu alvo principal é,
evidentemente, Jair Bolsonaro. É ele, sem sombra de dúvida, o grande
responsável pela tragédia, pela carnificina. A pandemia, como o nome já diz,
atingiu o mundo todo, mas cada país cuidou de um jeito. Bolsonaro foi quem
cuidou pior e o resultado está aí.
Uma
CPI paralela ou a inclusão de governadores e prefeitos no escopo da própria CPI
da Covid enfrentam obstáculos, porque, segundo seu regimento interno, o Senado
não pode investigar Estados e municípios. Mas há um atalho para chegar lá
naturalmente, pela própria dinâmica das investigações. Basta seguir o dinheiro
federal e apurar se houve desvios.
Quanto ao impeachment e à CPI contra ministros do STF, é para fazer barulho e dar carne aos leões bolsonaristas contra as instituições e a democracia. A oposição grita “genocida” para Bolsonaro e os bolsonaristas gritam contra ministros do STF e Congresso. Mas o passado, o presente e os fatos condenam Bolsonaro. Ele personaliza os ataques contra Barroso, mas, sem defesa, não tem interesse nenhum numa guerra desse tamanho contra o Judiciário e Legislativo.
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