terça-feira, 13 de abril de 2021

Braga Netto repete crítica a Barroso

Bolsonaro reclama de gravação de conversa

Por Fabio Murakawa e Matheus Schuch / Valor Econômico

BRASÍLIA - O ministro da Defesa, general Braga Netto, disse ontem que o país vive uma instabilidade que exige “coragem moral” dos homens públicos e respeito a limites impostos pela Constituição. Ao discursar na cerimônia de posse do novo comandante da Força Aérea, repetiu o termo utilizado pelo presidente Jair Bolsonaro ao atacar o ministro Luís Roberto Barroso, do Supremo Tribunal Federal (STF), por ter determinado a abertura da CPI da Pandemia no Senado.

A fala do ministro ocorreu horas depois de Bolsonaro ter se queixado do senador Jorge Kajuru (Cidadania-GO) por haver divulgado um diálogo entre ambos em que o presidente pede que a CPI investigue Estados e municípios e encorajá-lo a atuar para acelerar a abertura de processos de impeachment contra ministros do STF.

Braga Netto assumiu a Defesa em meio a desconfianças sobre politização das Forças Armadas. Ele foi deslocado da Casa Civil para a Defesa após queixas de Bolsonaro de que o antigo titular da pasta, Fernando Azevedo, não fazia uma defesa política do presidente.

“O momento exige de todos e as cizânias geram instabilidades”, disse Braga Netto, na posse do brigadeiro Carlos de Almeida Baptista Junior no comando da Aeronáutica. “Os homens públicos devem ter coragem moral, compreendendo os papéis institucionais e constitucionais de todos os envolvidos para que as ações tenham sinergia e os resultados sejam efetivos.”

Na sexta-feira, ao comentar a decisão de Barroso, Bolsonaro disse faltar ao ministro “coragem moral” e sobrar “ativismo judicial”.

Braga Netto afirmou que as Forças Armadas honrarão “sempre os propósitos de liberdade, democracia, independência e harmonia entre os Poderes e as expectativas do povo brasileiro”.

Em linha com Bolsonaro, que acompanhou a cerimônia sem discursar, o ministro exaltou o repasse de mais de R$ 700 bilhões para apoio a Estados e municípios para viabilizar o auxílio emergencial. E cobrou fiscalização sobre aplicação dos recursos.

Bolsonaro quer a inclusão de governadores e prefeitos em eventuais apurações sobre a gestão da pandemia, a fim de diminuir a pressão da CPI sobre o Planalto.

“O uso destes recursos pelos gestores de todas as instâncias deve ser acompanhado de perto pela população e sofrer apuração mais rigorosa para constatar os reais benefícios diretos para a sociedade", disse Braga Netto.

Mais cedo, a comentar a divulgação do áudio por Kajuru, Bolsonaro disse que o parlamentar só poderia ter sido gravado pelo senador com autorização.

“Eu fui gravado em uma conversa telefônica, a que ponto chegamos no Brasil. Gravado”, disse a um fã no Palácio da Alvorada. “Não é vazar. É te gravar. A gravação é só com autorização judicial. Agora, gravar o presidente e divulgar...”

Bolsonaro reclamou ainda que a CPI é “completamente direcionada contra a minha pessoa” e pediu que o alvo das investigações seja ampliado. “Se não mudar o objetivo da CPI, ela vai vir só para cima de mim”, afirmou o presidente. “O que tem que fazer para ser uma CPI que realmente seja útil para o Brasil? Mudar a amplitude dela. Bota governadores e prefeitos.”

Fontes do Palácio do Planalto com quem o Valor conversou ontem admitiam que pairava a dúvida sobre se a divulgação do áudio foi ou não combinada entre Bolsonaro e Kajuru. Mas esses interlocutores do governo afirmaram à reportagem que, por via das dúvidas, não mais conversariam ao telefone com o senador. “Para falar com ele [Kajuru] agora, só se for na sauna, como os romanos faziam”, disse uma fonte.

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