Resta-nos
confiar no que ainda temos de burocracia profissional no país
No
sábado (1º), velhos vacinados pelo Doria foram às ruas em apoio a Bolsonaro.
Parabéns para os chineses: os manifestantes pareciam bem fisicamente, e seus
evidentes problemas mentais eram claramente preexistentes.
Mesmo
a maior manifestação,
no Rio de Janeiro, não reuniu mais do que quatro ou cinco dias de brasileiros
mortos durante a pandemia por
culpa do governo Bolsonaro. Se a ideia era dizer “se tentarem derrubar
Bolsonaro, terão de se ver conosco”, ninguém ficou assustado.
A demonstração de força dos bolsonaristas fracassou, mas o que interessa é que precisaram tentá-la. Eles sabem que Bolsonaro está perdendo.
O
governo dos extremistas se desfaz a olhos vistos. Pela primeira vez na
história, os chefes
das Forças Armadas renunciaram conjuntamente em protesto contra o
presidente da República. Logo depois, o Supremo
Tribunal Federal tomou coragem e cumpriu seu dever constitucional
obrigando o Senado a abrir a CPI do assassinato em massa. Bolsonaro manobrou
para barrar a CPI, fracassou; manobrou para tirar Renan
Calheiros da relatoria da CPI, fracassou.
A
equipe econômica está se desintegrando em plena luz do dia, com demissão após
demissão, uma fila puxada pelos melhores que só não termina em Guedes porque
existe o inacreditável Adolfo
Sachsida. O extremista Ernesto
Araújo perdeu o Itamaraty e agora xinga o governo no Twitter. O vice-presidente
Mourão deu uma entrevista ao jornal Valor Econômico em que declarou
que não deve continuar na chapa na campanha da reeleição; defendeu, inclusive,
a união em torno de uma terceira via para 2022.
Não
há precedente para nada disso. Todo governo brasileiro que chegou perto desse
ponto caiu antes de atingir esse grau de degeneração. E, no entanto, o governo
Bolsonaro não cai.
No
fundo, quem sustenta o governo Bolsonaro no momento é a Covid-19. O vírus
impede manifestações de rua dos 70% do eleitorado que rejeitam Bolsonaro. E a
mortandade causada pelo governo está tão fora de controle que as forças que
poderiam organizar o impeachment não querem assumir responsabilidade pelo
número imenso de mortes que Bolsonaro já contratou.
Mas
se a Covid-19 segura Bolsonaro no Planalto, também impede que seu governo seja
funcional, o que, sejamos honestos, já não seria fácil de qualquer maneira. O
Brasil tem um grande problema de cuja solução depende a solução dos outros, a
pandemia. Foi justamente esse o problema que Jair Bolsonaro desistiu de
solucionar, porque já não comprou a vacina, já sabotou o isolamento social, e,
a esta altura, não saberia corrigir-se se o quisesse.
Daí
em diante, não há mais governo, só a mímica da rotina administrativa, a máquina
rodando no vazio. A grande realização de Bolsonaro em 2021 foi aprovar o
orçamento antes de maio.
Não
há mais governo, e ninguém se dispõe a derrubar quem já desistiu de governar.
Resta-nos
confiar no que ainda temos de burocracia profissional, no SUS, na Anvisa, nos
governos estaduais, no Butantã, na Fiocruz. Que o medo da CPI pelo menos impeça
Bolsonaro de continuar atrapalhando essa gente.
Minha aposta é que, depois do governo Bolsonaro, alguma palavra do português brasileiro entrará para as outras línguas como sinônimo de desastre.
Nenhum comentário:
Postar um comentário