Publicado
em 02/05/2021
Além
dos 400 mil mortos, uma tragédia social está acontecendo na pandemia, com
milhões de brasileiros mergulhados na miséria absoluta, sem ter nem o que comer
em casa
O
pastor anglicano Thomas Malthus era um pessimista, em meio ao otimismo
iluminista do final do século 18. Atribuía aos impulsos sexuais o crescimento
da população e, em decorrência, o aumento da pobreza. Era um darwinista social,
como o ministro da Economia, Paulo Guedes, que acha absurdo as pessoas quererem
viver até os 100 anos e os filhos de porteiros sonharem com aquele canudo de
papel do samba O pequeno burguês, grande sucesso de Martinho da Vila.
Somente Thomas Malthus explica a naturalidade com que o presidente Jair Bolsonaro e Guedes estão lidando com a crise sanitária e os 400 mil mortos pela covid-19 já contabilizados no Brasil. A teoria econômica malthusiana sustentava-se na tese de que a produção de alimentos não acompanharia o crescimento da população; porém, com a má alimentação e as doenças, haveria um reequilíbrio, com a redução da expectativa de vida e da taxa de natalidade. Mais semelhança com pensamento dominante no Palácio do Planalto e no Ministério da Fazenda, impossível.
O
agravante é que nada será como antes, porque a covid-19 acelerou transformações
no mundo do trabalho que vieram para ficar, com a substituição de mão de obra
por mais tecnologia e a adoção do trabalho avulso e remoto. Além disso, 10,5
milhões de pessoas deixaram de procurar emprego, dos quais 1,2 milhão passaram
a compor o grupo de desalentados, que chegou ao patamar recorde de quase
6milhões, um aumento de 27% em um ano.
Empresas com mais capacidade de investimentos aproveitam a oportunidade para avançar sobre os concorrentes e obter ganhos de produtividade. Entretanto, tão grave quanto o desemprego é o apagão de capital de micro, pequenos e médios empreendedores, que encerraram suas atividades e queimaram suas economias para sobrevivência das suas famílias. Guedes, entretanto, vê na pandemia uma oportunidade de ouro para descontruir políticas públicas, sem pôr nada no lugar, porque suas teorias ultraliberais estão tão ultrapassadas quanto as teses malthusianas.
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